Primeira mãe de todos os cavalos viveu há 140 mil anos

A “Eva égua”, a primeira mãe de todos os cavalos de hoje, viveu há cerca de 140 mil anos. Mas não se trata de um relato bíblico agora descoberto, mas sim de pesquisa com material genético que indicou que essa é a data provável da raiz do que os pesquisadores chamaram de mitogenoma ancestral de égua – a “Eva equina”.

O motivo é simples. O material genético, hereditário, dos seres vivos é uma mistura de parte de pai, parte de mãe. Esse material genético na forma de DNA fica no núcleo das células do corpo.

Mas, além do DNA nuclear, existe um que é transmitido na maior parte das espécies apenas pela mãe. Ele fica em um pequeno órgão celular chamado mitocôndria, uma “fabriqueta” de energia.

O genoma mitocondrial, por não apresentar a “recombinação” de genes de pais e mães, permite ter uma visão mais precisa do relacionamento evolutivo dos seres vivos e mesmo daquele dentro de uma mesma espécie.

Uma equipe internacional de 22 pesquisadores liderada por Antonio Torroni, da Universidade de Pavia, e Alessandro Achilli, da Universidade de Perugia, Itália, incluindo pesquisadores de Portugal, EUA, Síria, Irã e Alemanha, publicou os resultados na edição de hoje da “PNAS”, a revista científica da Academia de Ciências dos Estados Unidos.

A edição do texto costuma ser feita por um membro da academia e, desta vez, isso foi feito pelo brasileiro Francisco Mauro Salzano, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Salzano não é especialista em genética de equinos, mas trabalha com evolução humana e domesticação de animais. Para o pesquisador, o estudo foi rigoroso, o mais detalhado até hoje. Foram estudados 83 genomas mitocondriais de cavalos atuais vivendo na Ásia, Europa, Oriente Médio e Américas.

Não se trata de mera curiosidade científica. Como lembraram os autores na “PNAS”, “a agricultura e a domesticação animal foram passos fundamentais no desenvolvimento humano, contribuindo para o surgimento de povoações maiores, sociedades mais estratificadas e grandes civilizações”.

Qual o papel do cavalo nessa história? “O cavalo serviu como um meio de prover comida, facilitar o transporte, e (desde a Era do Bronze) aperfeiçoar as capacidades de fazer guerra”, dizem Torroni, Achilli e colegas.

A importância dos cavalos talvez tenha se refletido na rapidez com que foram domesticados e na provável ocorrência do fenômeno em locais bem distantes. O estudo revelou 18 grupos genéticos diferentes com as mesmas mutações e compartilhando ancestrais.

Os rebanhos atuais de bois e ovelhas derivam de alguns poucos animais domesticados em poucos lugares entre 10 mil e 8.000 anos atrás. Já a domesticação do cavalo, feita entre 7.000 e 6.000 anos atrás, deve ter ocorrido em vários pontos da Eurásia Central. Segundo os pesquisadores, os dados, no futuro, podem ser usados, por exemplo, para ajudar a determinar a pureza das raças. (Fonte: Ricardo Bonalume Neto/ Folha.com)