Uma das principais vozes científicas em defesa da realidade do aquecimento global causado pelo homem caiu em desgraça na semana passada.
O hidrologista americano Peter Gleick assumiu publicamente que se passou por outra pessoa para tentar expor as táticas de um grupo de céticos do clima.
O caso envenena ainda mais o debate público sobre o aquecimento global nos Estados Unidos, país que é um dos principais responsáveis pelo problema – graças às enormes quantidades de gases do efeito estufa que a nação produz – e onde a briga política entre os que acreditam no fenômeno e os que negam sua existência paralisa as ações para mitigá-lo.
O caso começou com o que parecia ser uma versão às avessas do chamado “Climagate”, de 2009.
Nessa polêmica anterior, hackers anônimos disponibilizaram na internet milhares de e-mails assinados pelos principais climatologistas do mundo.
Algumas mensagens pareciam dar a entender que os cientistas estavam ocultando e manipulando dados para tentar persuadir o público de que o aquecimento global é causado pelo homem.
Várias investigações acabaram mostrando que os e-mails tinham sido tirados de seu contexto original e que não houve manipulação da ciência do clima. Mas o dano à reputação dos cientistas já estava feito, em especial em países como os EUA.
No dia 15 deste mês, veio o que parecia ser o troco. Um remetente anônimo enviou para órgãos da imprensa e blogueiros americanos o que pareciam ser documentos sigilosos do Heartland Institute, ONG conservadora americana que promove, entre outras coisas, o ceticismo climático entre o público.
Os documentos incluem uma lista dos doadores do instituto – entre eles a Microsoft e a General Motors – e detalhes de um plano para criar um currículo para escolas públicas sobre a mudança climática, com o objetivo de ensinar que os cientistas não sabem se o homem está mesmo alterando o clima.
‘Suspeito óbvio’ – A chefia do Heartland Institute veio a público para dizer que um dos documentos divulgados era falso e ameaçou processar o responsável pelo vazamento. Funcionários da ONG chegaram a especular que Gleick era um dos “suspeitos óbvios”.
O cientista acabou admitindo a culpa numa postagem em seu blog no site “Huffington Post”. Ele teria recebido uma versão dos documentos de maneira anônima pelo correio e, para confirmar a veracidade deles, teria se passado por um membro da diretoria do Heartland Institute.
Gleick foi condenado publicamente pela AGU (União Geofísica Americana), órgão ao qual pertence, e renunciou ao seu cargo no Pacific Institute, na Califórnia. À Folha, a secretária de Gleick disse que ele não daria entrevistas. (Fonte: Reinaldo José Lopes/ Folha.com)