Alto custo do aluguel impede que zoos tragam pandas para o Brasil

Um dos animais mais carismáticos do planeta, o panda leva multidões a zoológicos espalhados pelo mundo, que “alugam” do governo chinês exemplares da espécie a preços milionários. Embora considerem importante o envio de animais para outros países a fim de garantir a preservação da espécie, biólogos ouvidos pelo Terra afirmam que seria praticamente impossível para os zoos brasileiros manter os altos custos de se ter um panda.

A Escócia, por exemplo, divulgou que vai pagar anualmente cerca de US$ 1 milhão ao governo chinês pelo empréstimo de dois pandas durante um período de 10 anos. Além disso, outro US$ 1 milhão deve ser gasto para manter a estrutura e a alimentação dos animais. “Acredito que teríamos um bom retorno do público, pois não temos nenhum panda na América do Sul. Mas não seria o suficiente para manter toda a estrutura necessária. O panda é um animal muito caro, é impensável para nós”, afirma o biólogo do Zoológico de São Paulo, Cauê Monticelli.

Monticelli explica que além do alto custo cobrado pelo governo chinês – valor destinado à preservação da espécie no ambiente natural na China -, ainda é preciso levar em conta a necessidade alimentar do animal. “O panda se alimenta de pequenos mamíferos e insetos, mas grande parte da dieta é composta de bambus. São mais de 20 tipos que nós não temos aqui no Brasil”, afirma ao destacar que ainda é necessário apresentar uma grande estrutura física. “De acordo com as normativas do Ibama, para dois indivíduos seria necessário um espaço de 1,5 mil m2, com mais de 4 m de altura. O zoo de São Paulo é muito grande e mesmo assim seria difícil. Agora imagina para outros zoos menores que temos no Brasil?”.

O biólogo Anderson Mendes trabalha há 20 anos no Jardim Zoológico do Rio de Janeiro e afirma que durante todo esse período não houve interesse em trazer pandas. “Apesar de ser uma espécie emblemática, que o público gosta muito, o custo é elevado. Preferimos investir esse dinheiro na melhoria da nossa estrutura e para manter outras espécies que estão igualmente ameaçadas”, afirma. Apesar disso, Mendes considera extremamente importante o programa chinês de emprestar pandas para zoos de outros países: “As áreas de distribuição natural do panda estão diminuindo cada vez mais por causa do crescimento das cidades chinesas. Por isso o trabalho em cativeiro é importante para ajudar a preservar a espécie”, completa.

O presidente da Sociedade Brasileira dos Zoológicos e Aquários, Luiz Pires, concorda com a relevância de se enviar exemplares para outros países. “Não basta promover a reprodução da espécie em apenas um país. E se problemas climáticos, ou até mesmo doenças, atingirem essa população? Todo o trabalho é perdido, por isso que se distribuem exemplares em outros locais, para garantir a manutenção da espécie”, explica.

Segundo Pires, um caso que representa essa situação envolveu o Brasil com o mico-leão-dourado. “Na década de 1980, o mico-leão foi enviado para diversos zoos do mundo. Quando entrou em ameaça de extinção na natureza aqui no País, animais nascidos lá fora foram trazidos para recuperar a espécie em vida livre. A mesma coisa pode ser feita com os pandas e outros animais caso seja necessário”, diz o especialista.

Para o diretor do Jardim Zoológico de Belo Horizonte, Carlyle Coelho, embora seja inviável para os zoos brasileiros gerenciar os custos para manter os pandas, isso não quer dizer que não haja preocupação com as espécies ameaçadas provenientes de outros continentes. “Assim como tentamos garantir a manutenção de várias espécies do nosso País, também procuramos exibir animais de outras partes do mundo. O nosso zoo, por exemplo, é o único da América Latina que tem gorilas (um macho e duas fêmeas)”, afirma ao destacar que a proteção dos animais deve ser assumida como um compromisso em todo o mundo. (Fonte: Angela Chagas/Portal Terra)