Pesquisadores afirmam que as espécies animais próximas ao homem cultivam naturalmente a cooperação e a solidariedade. “Os humanos são ricos de tendências sociais”, declarou o biólogo Frans de Waal para milhares de pesquisadores reunidos em Vancouver (Canadá), durante o encontro anual da Associação Americana para o Avanço da Ciência, na semana passada.
“Pesquisas recentes sobre os animais de espécies superiores, de primatas e elefantes, a ratos, mostraram que os comportamentos de cooperação e de solidariedade têm um fundamento biológico”, afirmou o pesquisador holandês, autor do livro “A Era da Empatia”.
“Há doze anos, a opinião dominante dos cientistas e dos tomadores de decisão era de que os humanos eram fundamentalmente ‘maus’ e que eles escondiam essa maldade atrás de uma fina camada de moralidade”, afirmou de Waal diante de colegas e jornalistas de 50 países.
“Mas os humanos – e a maioria das espécies superiores – são ‘morais’ no âmbito científico do termo, porque eles precisam cooperar entre si para se reproduzir e transmitir seus genes”, afirmou o biólogo.
“A pesquisa científica refuta a opinião, dominante desde o século XIX e típica para o biólogo Thomas Henry Huxley, segundo a qual a moralidade seria uma criação humana, ausente na natureza”, afirmou. “Também é falso, ao contrário do que diz uma versão corrente, que esta visão foi apoiada por Charles Darwin”, emendou.
O pai da Teoria da Evolução “era bem mais clarividente do que a maioria de seus seguidores”, continuou de Waal, citando “A Filiação do Homem”, no qual Darwin explicou que os animais que desenvolveram “instintos sociais evidentes adquiriram inevitavelmente um senso moral ou uma consciência”.
Ele exibiu ao público vídeos que mostram o estresse de um símio, privado de uma guloseima oferecida a outro símio, e um rato renunciando a um pedaço de chocolate para ajudar um colega a escapar de uma armadilha.
“Estas pesquisas mostram que os animais têm tendências naturais à sociabilidade, à reciprocidade, à correção e à consolação”, afirmou o cientista da Universidade Emory, de Atlanta (sul dos Estados Unidos).
“A moral humana é impensável sem empatia”, acrescentou.
Interrogado sobre a influência destes instintos sociais em um mundo capitalista baseado na competição, ele reconheceu que para os cientistas os animais reservam sua simpatia aos membros do grupo ao qual pertencem e que a competição é uma tendência natural dos homens em um mundo globalizado.
A moral se desenvolveu, segundo ele, entre os humanos de pequenas comunidades e as pessoas buscam atualmente estender sua capacidade de empatia ao conjunto do planeta.
“Eu não dito que seja impossível, eu penso que é preciso tentar alcançá-la, ainda que seja longe do possível, mas é um desafio. É uma nova experiência para a espécie humana aplicar ao mundo inteiro um sistema previsto para grupos” restritos, observou de Waal. (Fonte: Portal iG)