O sistema de posicionamento global (GPS) tão utilizado atualmente para guiar pessoas e máquinas não é uma novidade no mundo animal. Cientistas descobriram que o voo dos pombos é literalmente guiado por neurônios que leem a direção e intensidade do campo magnético da Terra. Em outras palavras: um GPS cerebral interno.
“Suspeitávamos que esses neurônios responderiam a estímulos magnéticos baseados em um artigo anterior que fizemos. Ficamos surpresos, no entanto, de descobrir que essas células cerebrais são ajustadas para [ler] a direção do campo magnético e que consequentemente podiam dar [aos pombos] a direção e o ângulo deste campo. As células também responderam à intensidade do campo. Esses parâmetros são necessários para fazer os cálculos de posicionamento em uma mapa ‘magnético’ espacial”, explicou ao iG David Dickman, principal autor do artigo publicado nesta quinta-feira (26) no periódico científico Science.
Dickman e Le-Qing Wu, do Baylor College of Medicine, nos Estados Unidos, chegaram à esta conclusão ao fazer um experimento com sete pombos em laboratório. Nele, usaram um sistema para cancelar o campo magnético da Terra e criar um outro artificial. Ao mesmo tempo, mediram as ondas cerebrais deles, identificaram 53 neurônios na região do tronco encefálico que mais responderam ao campo magnético artificial e perceberam que eles foram também os mais sensíveis ao campo magnético natural da Terra.
A escolha de pombos para fazer o estudo não foi por acaso. Em 2001, uma pesquisa feita por Yasuo Harada encontrou partículas de ferro no ouvido interno de pombos, patos e alguns peixes. “Fizemos a hipótese de que essas partículas de ferro poderiam ser usadas como receptores magnéticos. Como já estudávamos pombos, decidimos tentar primeiro com eles”, comentou Dickman.
Neurônios semelhantes podem existir em outros pássaros. “Não sabemos ainda, mas muitos pássaros usam o campo magnético para se orientar, para ir para casa e navegar como mostram diversos estudos de comportamento. É razoável presumir que muitos deles tenham neurônios que possuam um senso do campo magnético”, afirmou o cientista.
Foi a primeira vez que se achou esse tipo de célula no sistema nervoso – células semelhantes já haviam sido descobertas em olhos, ouvidos e bico de algumas aves.
Agora os cientistas querem identificar os receptores das células que enviam os sinais para o cérebro. (Fonte: Alessandro Greco/ Portal iG)