Uma espécie de borboleta da Grã- Bretanha está sendo favorecida pelo aquecimento global. A população da Aricia agestis aumentou nos últimos 20 anos, pois com a elevação da temperatura não é mais necessário ser tão exigente na escolha da planta onde ela deposita os ovos. Pesquisadores da Universidade de York constataram que a espécie mais que dobrou sua área de abrangência, que avançou79 km2 ao norte em 20 anos. Para eles, isso significa que as mudanças climáticas também podem criar condições vantajosas para a sobrevivência de uma espécie.
O estudo contou com a análise e coleta de dados dos últimos 40 anos. Os pesquisadores observaram que antes, a espécie usava apenas a uma planta, a esteva (Helianthemum nummularium), para depositar os ovos. Esta planta nasce na parte sul da Grã-Bretanha, mais ensolarada. Agora, foi observado que as borboletas também estão usando em seu ciclo de reprodução várias espécies da família do gerânio, que com o calor está se tornando muito mais comum.
Os pesquisadores afirmam que não se trata de uma mudança evolucionária da espécie de borboleta. “Aparentemente, ela parece ter sido sempre apta a usar o gerânio como hospedeiro, mas não a usavam por causa das condições microclimáticas que eram impróprias para a planta crescer quando o clima era mais frio”, disse ao iG Rachel Pateman, do departamento de Biologia da Universidade de York e autora do estudo publicado no periódico científico Science.
Rachel afirma que já era esperado que com o aumento da temperatura, as borboletas passassem naturalmente a habitar áreas mais ao norte, porém a capacidade de usar um segundo hospedeiro foi algo determinante para que ela tivesse se expandido de maneira muito mais rápida do que se ainda estivesse restrita ao uso de uma só planta como hospedeira. “A borboleta ‘vencedora’ fez muito mais do que o esperado”, disse ao iG Jane Hill, bióloga da Universidade de York que também participou do estudo.
Os pesquisadores acreditam que outras espécies de borboletas possam também estar se beneficiando das mudanças climáticas. “Muitas outras espécies estão tendo que alterar sua distribuição por causa das mudanças climáticas, mas algumas delas não tiveram a capacidade de fazer isto, tornando-se vítimas do aquecimento global. Acredito que as mudanças no clima vão criar vencedores e perdedores”, disse Rachel.
Jane afirma que se acreditava que a interação entre as espécies necessárias para a sobrevivência, como o caso da borboleta e a planta hospedeira, seriam impedidas com as mudanças climáticas. “Nosso estudo mostra que isto não é necessariamente uma verdade e que novas interações podem beneficiar uma determinada espécie”, disse Jane.
No entanto, a história da borboleta pode ter novos desdobramentos. As pesquisadoras afirmam que a mudança da borboleta pode trazer consequências para outras espécies aparentadas que habitam o norte da Grã-Bretanha. “Acreditamos que as duas espécies possam gerar híbridos”, disse Rachel. (Fonte: Maria Fernanda Ziegler/ Portal iG)