O registro de focos de incêndio no Brasil aumentou 61% de janeiro até esta sexta-feira (3), em comparação com o mesmo período do ano passado, quando houve 20,2 mil ocorrências. Pelas imagens captadas por satélites do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), desde janeiro até esta sexta (3), foram identificadas 32,6 mil ocorrências no país.
A população do estado de Mato Grosso é a que tem sentido os maiores efeitos das queimadas, com o registro de mais de 6 mil ocorrências. No Maranhão, o número de focos de incêndio chega a 5,6 mil. Os casos no Piauí, na Bahia e no Tocantis mantêm-se em torno de 3 mil ocorrências mapeadas pelos 11 satélites do instituto.
O coordenador do Monitoramento de Queimadas do Inpe, Alberto Setzer, explicou que, este ano, as condições climáticas estão mais propícias aos incêndios, diferentemente de 2011, cujo cenário foi mais úmido. No ano passado, o monitoramento de incêndios revelou um decréscimo de 56% das ocorrências em relação aos registros de 2010.
“O ano passado foi chuvoso. Mas, normalmente, neste período do ano, algumas regiões do Brasil Central ficam até três meses sem chuva e isso favorece a propagação do fogo. Algumas regiões de Mato Grosso e do Tocantins já estão há 30 dias sem chuvas”, explicou Setzer.
Apesar do clima seco, com temperaturas acima dos 30 graus Celsius e a baixa umidade [abaixo de 40%], o pesquisador do Inpe revela que praticamente todos os casos são provocados pela ação do humana. “Na seca, não tem ocorrência de raio que poderia começar o incêndio. A origem não é o clima. O problema é que, com a seca, as pessoas começam a colocar fogo”, disse.
Apesar de confirmar a lógica de que quanto maior a estiagem, maior o número de focos de incêndio detectados, Stezer acredita que o fator econômico exerce também forte influência. Em um primeiro cenário, há a influência da economia sobre a atividade agrícola. Quando o mercado acelera o ritmo, com produtos como a soja sendo vendidos a preços considerados atrativos, os produtores sentem-se estimulados a aumentar as fronteiras agrícolas. E essa ação é feita basicamente a partir de queimadas.
Outra situação em que o fator econômico exerce influência é a realidade agrícola de São Paulo, onde, por exemplo, são queimados, anualmente, 20 mil quilômetros quadrados nas áreas rurais para colheita manual da cana-de-açúcar. “É um processo que está sendo mecanizado, mas ainda 50% dos cultivares são colhidos manualmente, o que exige o uso do fogo”, disse o pesquisador.
Setzer acrescenta a falta de fiscalização como fator responsável pelo aumento das queimadas no país. “As leis são boas e está tudo bom no papel, mas, na realidade, há milhares de focos e ninguém está monitorando.” Para ele, a receita para inverter a situação das queimadas nesta época do ano é uma “dobradinha educação-fiscalização. A única forma de prevenir [os incêndios] é as pessoas não usarem o fogo. A origem do fogo é claríssima. Não há dúvida que é a ação humana”.
Do total de focos identificados pelo Inpe, 55,5% estão concentrados nas regiões do bioma Cerrado, onde há registros, desde janeiro até hoje, de 18,1 mil ocorrências, seguidas pelas regiões do bioma Amazônia, onde estão concentrados 21,5% dos focos de incêndio, ou seja, pouco mais de 7 mil ocorrências. (Fonte: Carolina Gonçalves /Agência Brasil)