Maioria das queimadas nos biomas brasileiros são por ação humana

Estudo analisou ocorrência de queimadas de 2011 a 2022 nos seis biomas brasileiros, a partir de projeções de mudanças climáticas

Incêndio na Chapada dos Veadeiros, em Goiás – Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

De 2011 a 2020, a frequência e a quantidade de queimadas da Caatinga, Mata Atlântica e Amazônia, que não têm condições climáticas que favoreçam o fogo, foi semelhante à dos biomas do Cerrado, Pampa e Pantanal, cujo fogo é um elemento natural.

Esse padrão, levantado por pesquisa publicada na revista científica PeerJ Life & Environment na terça-feira (25), indica que grande parte dos incêndios, em todos os biomas, são provocados pelo homem e não pelas condições naturais do clima.

Liderado por pesquisadoras das universidades federais da Bahia (UFBA) e do Rio de Janeiro (UFRJ), o estudo investigou a ocorrência de padrões de queimadas nos seis biomas brasileiros, de 2011 a 2020, a partir de dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

Elas também fizeram projeções sobre a ocorrência de incêndios nos biomas e sua vulnerabilidade e risco, em 2050 e 2090, a partir das projeções dos efeitos de mudanças do clima do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC).

Apesar de localizada a persistência do fogo em todos os biomas, houve pequenas variações em cada região, o que pode ser atribuído, também, a eventos de incêndios naturais. A Caatinga, por exemplo, foi o bioma com menos recorrência de episódios de queimadas. Isso se explica pelo fato desse bioma ter condições desfavoráveis à propagação do fogo, como a falta de biomassa. As queimadas foram mais persistentes na Mata Atlântica – o que acende um sinal de alerta dos pesquisadores.

Em todos os cenários projetados, a Mata Atlântica é o bioma que apresenta maior risco a incêndios, pois, possivelmente, irá diminuir a sua capacidade de se adaptar ao fogo ao longo das décadas. A Amazônia aparece como mais resiliente ao fogo, em comparação a outros biomas, como a própria Mata Atlântica e o Pampa, que têm mais perda vegetativa e menos áreas de proteção.

A pesquisadora Luísa Maria Diele-Viegas, coautora e líder do estudo, aponta que a principal contribuição do trabalho é de levantar evidências de que o aumento das secas, da temperatura média e a diminuição das chuvas serão propícias para a propagação do fogo com mais intensidade. “Se mantivermos a cultura de atear fogo para abertura de pasto e de áreas de plantio, os incêndios vão ficar cada vez mais incontroláveis”, ressalta.

Um evento que mostra o que pode acontecer com o encontro de ações provocadas pelo homem e condições favoráveis à expansão do fogo, segundo Diele-Viegas, é que queimou mais de 30% do Pantanal em 2019 e 2020. O episódio foi provocado pela falta de chuvas e a baixa umidade do ar na região, devido ao desmatamento da Amazônia.

A análise do estudo projeta que secas extremas se tornarão mais frequentes com as mudanças climáticas, o que pode facilitar a ocorrência e propagação de incêndios.

Diante disso, Diele-Viegas acredita que a pesquisa pode embasar políticas públicas para preservar a biodiversidade dos biomas, além de promover medidas de controle e prevenção de incêndios. “É importante, por exemplo, promover educação ambiental para que as pessoas entendam os efeitos negativos de se utilizar esse tipo de método”, aconselha a pesquisadora.

Fonte: Galileu