A Floresta Amazônica não é considerada o pulmão do mundo à toa: ela é essencial para o ciclo de captura de carbono, controlando os índices de poluição no planeta. Mas, segundo um estudo publicado na revista Nature Climate Change na última terça-feira (7), o bioma está perdendo essa capacidade.
O armazenamento de carbono ocorre nos troncos, galhos e folhas das árvores. Já se sabe que, com desmatamento e queimadas, a Amazônia está próxima de produzir mais carbono do que capturar. De acordo com a nova pesquisa, o sudeste amazônico concentra 40% das perdas que podem ocorrer nos estoques de carbono em biomas tropicais devido às mudanças climáticas até o final do século.
“A perda de carbono nas florestas tropicais do sul e leste da Amazônia, e do importante trabalho que elas realizam em termos de ciclagem do carbono e da água, terá um impacto ainda maior no clima, criando uma espécie de retroalimentação entre essa região e a atmosfera”, explica, em nota, Maria del Rosario Uribe, pesquisadora e professora no departamento de Ciência do Sistema Terrestre da Universidade da Califórnia em Irvine, nos Estados Unidos, e principal autora do artigo.
No pior dos cenários , a capacidade desses ecossistemas de armazenar carbono seria reduzida em 20,1%, causando a liberação do gás na atmosfera e agravando o superaquecimento global. Já uma estimativa mais ponderada indica redução de até 12% na capacidade de fixação de carbono. Para isso, contudo, seria preciso que os países mantivessem baixas emissões de gases causadores do efeito estufa até 2100.
Alterações nos padrões de chuva e a intensificação da estação seca, consequências da emergência no clima, são os principais fatores que podem acelerar essa transformação. Segundo comunicado do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), a cada 1°C de aumento na temperatura média global, o impacto na perda de fixação de carbono em biomas tropicais seria equivalente a uma liberação 10 vezes maior que as emissões anuais do Brasil ou de quase metade das emissões anuais globais.
Para a Amazônia, essa realidade significa, na prática, estar à beira de um “precipício climático”. Na visão de Paulo Brando, pesquisador no IPAM e um dos autores do artigo, o estudo mostra que compensa investir na conservação do bioma. “É urgente mitigar esse cenário de precipício climático com a redução das emissões globais e com o fortalecimento de medidas de conservação e adaptação”, considera, em nota.
Fonte: Galileu