Ativistas, líderes mundiais e a sociedade civil reagiram ao novo relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), que alertou nesta segunda-feira (10/08) que o mundo está a caminho de descumprir, já nos próximos 15 anos, a meta de limitar o aquecimento global a 1,5 °C até o final do século, com impactos irreversíveis.
O relatório salientou ser inegável que as emissões de gases do efeito estufa provocadas pelo homem são a causa do aumento da temperatura global, que já desencadeou catástrofes ambientais em todo o mundo.
O planeta já aqueceu 1,1 °C desde a segunda metade do século 19, apontou o IPCC, e apenas um punhado de países está em vias de reduzir suas emissões a um nível suficiente.
Greta Thunberg: “Estamos em uma emergência”
Para a ativista climática Greta Thunberg, o relatório do IPCC “não contém verdadeiras surpresas”.
“O relatório confirma o que já sabemos a partir de milhares de estudos e relatórios anteriores – que estamos em uma emergência”, escreveu a jovem de 18 anos em sua conta no Twitter.
“Cabe a nós sermos corajosos e tomar decisões baseadas nas evidências específicas fornecidas por esses relatórios. Ainda podemos evitar as piores consequências, mas não se continuarmos como atualmente, e não sem tratar a crise como uma crise”, afirmou.
Após a divulgação do relatório do IPCC, Greta disse à agência de notícias Reuters que mudou de ideia e agora planeja participar da próxima conferência climática da ONU (COP 26), que será realizada na Escócia entre 31 de outubro e 12 de novembro. Ela havia dito anteriormente que boicotaria a conferência devido à distribuição desigual de vacinas para covid-19 em todo o mundo.
A ativista nigeriana Oladosu Adenike teve uma reação semelhante à de Greta ao relatório do IPCC. A nigeriana escreveu em seu Twitter que “os compromissos dos líderes mundiais não são suficientes para enfrentar as projeções atuais do impacto”.
“Sentença de morte” para combustíveis fósseis
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, classificou o relatório como “código vermelho” para a humanidade e acrescentou que o documento “deve soar como uma sentença de morte para o carvão e os combustíveis fósseis, antes que destruam o planeta”.
O enviado especial do governo dos EUA para o clima, John Kerry, afirmou que o relatório do IPCC mostra que “não podemos nos dar ao luxo de mais atrasos” e acrescentou que “a mudança climática está transformando nosso planeta de maneiras sem precedentes, com efeitos de amplo alcance que já estamos vendo – criando ondas de calor, chuvas extremas, climas propícios para incêndios e secas mais frequentes e severas”.
O primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, que enfrenta pressão para impedir a planejada abertura de uma mina de carvão, também reagiu ao relatório do IPCC. “Nós sabemos o que deve ser feito para limitar o aquecimento global – deixar o carvão no passado e mudar para fontes de energia limpa, proteger a natureza e fornecer financiamento climático para países na linha de frente”, afirmou.
O chefe da União Europeia para o Acordo Verde Europeu, Frans Timmermann, juntou-se ao coro no Twitter, afirmando que “não é tarde demais […] se agirmos de forma decisiva agora”.
Políticos alemães também pediram por uma maior cooperação para enfrentar a crise, incluindo um acordo verde global para expandir as energias renováveis.
Mais condições extremas por vir
A climatologista alemã Friederike Otto, coautora do relatório do IPCC, conversou com a DW sobre as conclusões do painel da ONU e afirmou: “É um fato: não há dúvida de que as emissões humanas de gases de efeito estufa são a causa do aquecimento que observamos.”
Otto explicou que podemos esperar eventos meteorológicos e climáticos mais extremos, como ondas de calor, inundações e secas, que já têm ocorrido.
“Além disso, também iremos continuar a observar, não importa em que nível restringirmos o aumento da temperatura média global, o aumento do nível do mar por décadas e séculos, e também o derretimento glacial”, afirmou.
A climatologista alemã também enfatizou que o relatório do IPCC é sobre a ciência do clima, que fornece aos governos os dados de que precisam para decisões políticas, mas não faz recomendações de políticas climáticas. Mas, segundo Otto, se a humanidade quiser limitar o aquecimento a apenas 1,5 °C, é preciso “atingir a neutralidade climática até metade do século”.
Aquecimento por trás de recentes incêndios florestais
O departamento para o clima da Agência Espacial Europeia (ESA) conversou com a DW sobre o relatório do IPCC e os recentes incêndios florestais no sul da Europa.
O especialista em clima Clement Albergel afirmou que o novo relatório do IPCC “ecoa as descobertas anteriores que conectam as atividades humanas, em particular as emissões de gases de efeito estufa e as mudanças climáticas”.
Em referência aos incêndios que devastaram grandes áreas de Grécia, Turquia e Itália nos últimos dias, Albergel foi enfático: “Quando altas temperaturas são combinadas com baixa umidade, pouca chuva e/ou ventos fortes, aumenta o risco de incêndios florestais. Esta combinação de condições tem sido observada por um longo período de tempo em grande parte do mundo, e está ligada às mudanças climáticas”.
“Com um clima mais quente, eventos extremos, como ondas de calor prolongadas e secas, provavelmente aumentarão em intensidade e frequência. Este é um fato comprovado”, acrescentou
Fonte: Deutsche Welle