Na busca por uma solução para os problemas sanitários do mundo, o fundador da Microsoft, Bill Gates, decidiu inovar: lançou um concurso entre oito universidades internacionais para que elas criassem novos modelos de vasos sanitários baratos e sustentáveis.
O projeto vencedor, criado por uma equipe de cientistas do Caltech (Instituto de Tecnologia da Califórnia, na tradução do inglês), deve estar pronto para ser usado pelo público e comercializado daqui a 30 meses, em fevereiro de 2015, disse ao G1 o autor do projeto, o professor de engenharia Michael Hoffmann.
A “privada do futuro” é autossuficiente e movida a energia solar, afirma Hoffmann. Formada por sete pesquisadores (todos PhDs, segundo o professor), a equipe da Caltech montou o projeto dentro da cúpula do terraço de um laboratório da faculdade.
Três protótipos foram criados: uma privada comum, um mictório e uma fossa. Os vasos sanitários foram instalados em um patamar mais alto, enquanto um tanque abaixo faz as reações químicas que vão oxidar as “necessidades”.
A energia solar é utilizada para uma reação que transforma as fezes em fertilizantes e gás hidrogênio, de acordo com Hoffmann. O gás alimenta baterias que podem ter várias finalidades, inclusive dar energia extra ao vaso sanitário durante à noite e em dias nublados, segundo os autores do projeto.
As privadas “operam em um sistema fechado, em que a água passa por um sistema de reciclagem interna para ser totalmente reaproveitada”, ressalta o pesquisador. Além de servir para o vaso sanitário, a água sai pronta para ser direcionada para irrigação, por exemplo.
Hoffmann ressaltou que o sistema está sendo desenvolvido há anos pensando nos países mais pobres, onde o acesso ao saneamento é muito baixo.
“O vaso é independente de infraestrutura urbana, como rede elétrica, e de sistemas subterrâneos de recolhimento de esgoto”, disse ele em um vídeo da Caltech que explica a “privada do futuro”.
Hoffmann disse ao G1 que o projeto vai ser incorporado às teses de PhD de seus alunos. “Ainda houve pesquisas laboratoriais fundamentais que fizemos para provar que o sistema funciona”, disse. A equipe contou com apoio de outros cientistas e alunos da Caltech no projeto.
Reinventando a privada – Lançado há cerca de um ano, o “Desafio para Reinventar a Privada” (“Reinvent the Toilet Challenge”, na tradução do inglês) doou US$ 400 mil (cerca de R$ 800 mil) para as equipes das instituições de ensino desenvolverem seus projetos. Participaram universidades como Toronto (no Canadá), Stanford e Caltech (nos EUA) e Delft (Holanda). O resultado: vasos sanitários que usam energia limpa e pouca ou nenhuma água.
O anúncio do vencedor saiu na última terça-feira (14), em uma feira sobre o tema realizada pela Fundação Bill e Melinda Gates em Seattle, nos EUA. A equipe vencedora recebeu prêmio de US$ 100 mil (cerca de R$ 200 mil).
O segundo lugar foi dado à Universidade Loughborough, no Reino Unido, por uma privada que transforma as fezes em carvão biológico. O processo também ocorre em uma reação química, e o carvão é queimado para produzir energia que vai ser usada pelo sanitário. A água e o sal das fezes e da urina são reaproveitados, de acordo com a universidade.
Passando aperto – A ideia do concurso, pondera o fundador da Microsoft em seu blog, “The Gates Notes”, é encontrar uma maneira de ajudar 2,6 bilhões de pessoas no mundo que não têm acesso a sistema sanitário adequado e fazem suas “necessidades” ao ar livre, em rios e outros locais impróprios.
Gates avalia que quatro em cada dez pessoas no mundo “passam aperto” pela falta de local para ir no banheiro. “Além da questão da dignidade humana, a falta de acesso coloca a vida das pessoas em risco, cria um problema de saúde e economia para comunidades pobres e prejudica o meio ambiente”, afirma Gates em seu blog.
As pesquisas vão ajudar a melhorar a vida das pessoas no mundo todo, reflete o fundador da Microsoft. “Imagine o que é possível se nós continuarmos a colaborar e incentivar novos investimentos no setor”, disse ao site de sua fundação. “Muitas destas inovações não vão apenas revolucionar o saneamento nos países em desenvolvimento, mas também vão transformar a dependência dos sanitários tradicionais nos países desenvolvidos.” (Fonte: Globo Natureza)