A secretária-executiva da ONU para mudanças climáticas, Christiana Figueres, disse nesta sexta-feira (30) que não vê interesse e ambição de governos para tomar decisões que reflitam na desaceleração da mudança climática e no sucesso das negociações climáticas que ocorrem em Doha, no Qatar, durante a COP 18.
Segundo ela, a desaceleração econômica mundial tirou os holofotes do aquecimento global. Nenhum país grande presente ao encontro que começou em 26 de novembro e deve se encerrar em 7 de dezembro anunciou alguma medida nova para conter as temperaturas em elevação e ajudar a evitar as inundações, estiagens, ondas de calor e elevação do nível dos oceanos previstas.
“Meu pedido aqui é para que todos nós ajamos com impaciência”, disse Christiana, quando questionada sobre as baixas expectativas para Doha. Ela pediu que todos – do público aos líderes empresariais – pressionem os governos. “Talvez eu não veja tanto interesse público, tanto apoio para os governos tomarem decisões mais ambiciosas e corajosas”, afirmou ela.
A conferência de Doha é uma oportunidade de finalizar negociações secundárias iniciadas em 2007, em Bali, para que um novo processo seja iniciado efetivamente, que criará novo acordo pelo qual empreenderão esforços para restringir suas emissões.
Além disso, está em debate a renovação do Protocolo de Kyoto, único acordo já ativo pelo qual parte dos países ricos se comprometem a reduzir seus gases estufa, mas que está expirando.
“Em última análise, (os governos) têm de chegar a um pacote politicamente equilibrado (em Doha), com o qual ninguém ficará satisfeito… reconhecendo plenamente que o que vier de Doha não estará no nível de ambição de que necessitamos”, disse ela.
Conciliar interesses nacionais – Manter o Protocolo de Kyoto vivo seria um passo em direção a um acordo global a ser aprovado em 2015 e entrar em vigor em 2020. Ele forçará todas as nações a limitar as emissões de gases-estufa, em especial as decorrentes da queima de combustíveis fósseis em usinas de energia, fábricas e carros.
Figueres afirmou que os governos estão cientes da necessidade de ação urgente, mas também têm de conciliar os interesses nacionais, dos países da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) preocupados com uma mudança do petróleo, aos pequenos Estados insulares, que querem medidas radicais para desacelerar a elevação do nível das marés.
“É aí que temos um gap (lacuna, na tradução livre do inglês)”, disse ela a milhares de delegados reunidos em um centro de convenções no Catar que tem uma escultura de metal gigantesca de uma aranha como centro.
Um acordo sobre a mudança climática é difícil porque “afeta todos os setores da economia. Afeta todas as partes da sociedade”, disse Artur Runge-Metzger, chefe da delegação da Comissão Europeia. Ele disse, porém, que foram feitos avanços na última década; muitas nações estabeleceram metas de cortes nas emissões para 2020. (Fonte: Globo Natureza)