Os países do Hemisfério Norte têm o dever de reparar os danos causados aos países do Hemisfério Sul pela mudança climática, o que pode constituir “a maior injustiça social de nossa época”, afirmaram nesta segunda-feira (3) organizações não governamentais em uma carta aberta aos ministros que participam da COP 18, Conferência da ONU sobre o Clima que acontece em Doha, no Qatar.
“Os governos devem levar em conta e reparar as perdas e danos permanentes causados pelo impacto da mudança climática”, afirmam 40 ONGs, entre elas Greenpeace, Care International, Climate Action Network, Oxfam e associações da sociedade civil da Bolívia, Uruguai, Islândia.
“Os países pobres e as comunidades menos responsáveis pela crise climática também são os mais vulneráveis , acrescenta o texto. “Devido à histórica falta de ação dos países desenvolvidos, nos dirigimos para a maior injustiça social de nossa época”, afirma o documento.
Os signatários pedem aos países industrializados que “reduzam imediatamente e de forma drástica suas emissões de gases com efeito estufa (GEI)’ e que “ajudem os países vulneráveis a se adaptar às novas realidades”.
Nesta segunda, o encontro que reúne representantes de 193 nações passa a receber os ministros de Estado e enviados especiais para o clima, que tentarão decidir como reduzir as emissões de gases-estufa do planeta e como financiar países pobres na questão climática. A ministra do Meio Ambiente do Brasil, Izabella Teixeira, estará presente nos próximos dias.
Reunidos desde a semana passada, diplomatas ainda não resolveram impasses em torno da discussão sobre a prorrogação do Protocolo de Kyoto, acordo global vigente que impõe a países desenvolvidos regras para reduzir as emissões de gases-estufa.
Negociadores brasileiros ouvidos pelo G1, o segundo período, tratado pelos diplomatas como “Kyotinho” ou “Kyoto 2” passará a vigorar a partir de janeiro de 2013. No entanto, as regras criadas em 1997 serão alteradas. A prorrogação do atual plano foi oficialmente registrada no fim de 2011, em troca da promessa de se criar um novo acordo global que envolveria todos os países, planejado para entrar em vigor em 2020.
Em uma primeira dimensão simbólica, Kyoto 2 deverá cobrir apenas 15% das emissões globais de gases de efeito estufa, os da União Europeia e da Austrália, já que o Canadá abandonou o protocolo e a Rússia e Japão não querem uma segunda etapa. A Austrália quer reduzir as suas emissões em 5% e a UE, em 20% até 2020.
Questão financeira ainda é entrave – Nações emergentes, como a China e o Brasil, cobram dos governos mais ricos que apresentem um “mapa do caminho” de como intensificar o financiamento do clima de US$ 100 bilhões anuais até 2020, promessa feita na COP 15, realizada em Copenhague há três anos.
A crise econômica é utilizada como desculpa para não encontrar definição sobre os mecanismos que podem resolver a questão climática. Os EUA e a Europa, por exemplo, resistem fortemente à ideia de que devem compensar as perdas resultantes de desastres ambientais, temendo que isso levaria a pedidos de crédito que poderiam durar para sempre. (Fonte: Globo Natureza)