Dias depois de uma nuvem asfixiante cobrir a capital da China, o próximo primeiro-ministro do país somou sua voz aos apelos para conter a fumaça tóxica, mas ofereceu poucos detalhes e disse que não há solução rápida.
Os comentários do vice-premiê Li Keqiang, que deve assumir o cargo de primeiro-ministro em um congresso nacional em março, marcaram a primeira vez que um membro do Comitê Permanente do Politburo do Partido Comunista abordou os níveis de poluição que atingiram patamares recordes durante o fim de semana.
As condições tinham melhorado um pouco nesta terça-feira (15), mas o ar perigoso provocou comentários irritados de alguns dos 20 milhões de moradores de Pequim e inspirou a mídia estatal, geralmente complacente, a criticar a inércia do governo.
“Houve um acúmulo de longo prazo para este problema, e a solução vai exigir um processo de longo prazo. Mas temos de agir”, disse a rádio estatal citando Li nesta terça-feira, três dias após as medidas de poluição ultrapassarem os recordes anteriores.
“Por um lado, temos que aumentar a força da gestão ambiental e outras tarefas oficiais, e, por outro lado, devemos lembrar ao público para reforçar a proteção pessoal. Esta situação exige conscientização e participação de todas as pessoas e nossa administração conjunta”, afirmou.
Emissões de fábricas e usinas de aquecimento, vapores de milhões de veículos e da queima de tijolos de carvão para aquecer casas muitas vezes cobrem a cidade com uma névoa pungente que pode ficar parada sobre a cidade dependendo das condições meteorológicas.
A qualidade do ar em Pequim ficou muito acima dos níveis de risco no fim de semana, chegando a 755 no sábado em um índice que mede partículas no ar com um diâmetro de 2,5 micrômetros. Um nível acima de 300 é considerado perigoso, enquanto que a Organização Mundial de Saúde recomenda um nível diário de não mais do que 20.
Partículas com um diâmetro de 2,5 micrômetros, conhecidas como PM2.5, pode causar doença cardiopulmonar, câncer de pulmão e infecção respiratória aguda, de acordo com o Jornal de Toxicologia e Saúde Ambiental.
Li elogiou o governo por abertamente publicar os dados sobre as partículas PM2.5 de uma maneira “oportuna e realista”, embora essa mudança tenha acontecido só no ano passado após pressão da opinião pública em resposta a um acompanhamento popular do índice publicado pela Embaixada dos EUA em Pequim .
No entanto, alguns observadores disseram que o governo tem sido relativamente rápido em assumir o tamanho do problema da poluição do ar na capital, em parte porque está preocupado com a instabilidade potencial de problemas de poluição crescentes em todo o país, mas também porque a qualidade do ar não pode ser escondida dos olhos do público, apesar da mídia estritamente controlada.
O escritório de Pequim da agência de vigilância ambiental da China disse em seu microblog na segunda-feira que implantou um plano emergencial de redução de poluição de um dia, que visa reduzir o número de carros do governo nas estradas e cortar as emissões em 54 fábricas em 30%.
Trabalhos de escavação e demolição em 28 canteiros de obras seriam temporariamente interrompidos, informou, mas não ofereceu detalhes sobre os projetos ou fábricas envolvidas no plano.
Ma Jun, um ambientalista que fundou o Instituto de Assuntos Públicos e Ambientais, disse que a maneira como o governo lidou com a recente onda de fumaça foi “sem precedentes” em sua transparência.
“O primeiro passo é dizer às pessoas a verdade, e colocar a saúde das pessoas à frente do governo”, disse Ma à Reuters.
As leituras de poluição do ar ainda pairavam em níveis insalubres nesta terça-feira, segundo dados da Embaixada dos EUA. (Fonte: G1)