A Marinha e e o Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) divulgam nesta segunda-feira (28) um edital de concurso público para escolher o melhor projeto de arquitetura destinado à construção de uma nova base militar e científica na Antártica.
O concurso é lançado após o desmonte completo do que sobrou da Estação Antártica Comandante Ferraz, destruída por um incêndio em fevereiro de 2012, deixando dois mortos.
A reconstrução, prevista para ocorrer entre o verão de 2013/2014, deve facilitar o trabalho de pesquisadores que, mesmo com os problemas de infraestrutura, mantiveram seus estudos em navios da Marinha que continuam em uma região próxima de onde ficava a estação.
Prevista para ter cerca de 3.300 m² de área construída e capacidade de abrigar até 65 pessoas por vez, a nova base vai receber um investimento de R$ 100 milhões da União. A verba também servirá para cobrir as despesas com a contratação das empresas e o processo logístico.
Resta saber agora qual o formato das novas instalações, que, segundo o arquiteto, membro do Conselho Superior do IAB e coordenador do concurso, Luiz Fernando Janot, deverão ser “referência global nos aspectos arquitetônico e tecnológico”.
Ultramodernismo no gelo – Inspirações estrangeiras não devem faltar para os arquitetos brasileiros que vão se envolver nesse processo. Edificações mantidas na Antártica por países como Estados Unidos, Alemanha, França, África do Sul e Reino Unido foram feitas com inspiração high-tech e usam tecnologias desenvolvidas para aplicação no espaço.
As edificações da estação Concordia, mantida pela França e pela Itália, usam tecnologia desenvolvida pela Agência Espacial Europeia (ESA) que recicla a água utilizada nos banhos e nas pias.
Já a estação inglesa, chamada Princesa Elisabeth, emprega um sistema sofisticado de gestão de energia que aproveita ao máximo os ventos antárticos e os raios solares para gerar eletricidade, sem emitir gases-estufa.
E a base Amundsen-Scott, mantida pelos Estados Unidos, aguenta temperaturas abaixo de 100º C negativos e é a maior instalada no interior do Polo Sul, com capacidade para 150 pessoas.
Características – Segundo Janot, a nova estação brasileira na Antártica será construída inicialmente em “terra firme”, para depois ser remontada no continente gelado. Ele explica que será necessário realizar testes para saber se o material implantado vai suportar o ambiente hostil, com ventos de até 200 km/h, uma umidade do ar extremamente seca e intensas tempestades de neve.
A Marinha afirma que o projeto escolhido deverá priorizar a integração entre energias renováveis e fósseis e o uso de materiais de alta eficiência e fácil manutenção. Materiais feitos de concreto, por exemplo, não poderão ser utilizados, para evitar impactos ambientais.
“[O novo projeto] terá que abordar desde sistemas de comunicação, saneamento e abastecimento de água. Quanto à energia, será um sistema misto, que não cause sobrecarga de uma única fonte”, destaca Janot.
Sobre o risco de novos acidentes, o coordenador do concurso afirma que a segurança patrimonial e pessoal terá prioridade. “Acidentes registrados anteriormente não vão ocorrer no novo programa”, afirma.
Acordo com o Chile – Durante encontro neste sábado (26) em Santiago, no Chile, a presidente Dilma Rousseff assinou um tratado de cooperação bilateral com o presidente Sebastián Piñera que prevê, entre outros pontos, o uso da estação antártica chilena por militares e pesquisadores brasileiros no período em que a base científica do Brasil estiver sendo reconstruída.
Além do uso conjunto da estação, o tratado prevê a realização de atividades em parceria entre os dois países. A justificativa dos dois governos para a cooperação é “otimizar o emprego de recursos humanos e materiais” e evitar “duplicidades” no desenvolvimento de pesquisas científicas e tecnológicas no continente antártico.
O acordo estabelece, inclusive, o intercâmbio de informações e a aquisição e o uso conjuntos de novos equipamentos relacionados à gestão ambiental.
Investigação do acidente – Em dezembro do ano passado, o Ministério Público Militar (MPM) denunciou um sargento da Marinha por homicídio culposo (sem intenção de matar) e danos decorrentes do incêndio provocado nas instalações da Estação Comandante Ferraz, em 25 de fevereiro.
O militar, segundo o MPM, tinha a incumbência de transferir o óleo diesel de um tanque grande para outros dois tanques externos, existentes na Praça de Máquinas e responsáveis por alimentar os geradores da base. O denunciado é o sargento Luciano Gomes Medeiros, de 45 anos, que era responsável pelo setor de máquinas da estação e sofreu queimaduras ao tentar apagar as chamas.
Dois militares acabaram morrendo no incêndio, que destruiu completamente a base e causou um prejuízo de R$ 24,6 milhões. A investigação apontou que o sargento ficou em uma festa até cerca de 0h40 do dia 25, quando houve uma variação de energia na estação. Nesse momento, segundo a denúncia, Medeiros se lembrou da transferência de combustível e retornou à sala de máquinas, onde percebeu o incêndio.
O inquérito militar aberto pela Marinha atribuiu culpa a três pessoas: o sargento, o comandante da Estação Comandante Ferraz e um civil. Apenas o sargento foi denunciado, e o MPM pediu o arquivamento do caso em relação aos outros dois acusados, que haviam sido indiciados por terem desligado o alarme de incêndio da base em razão de um hipotético uso de uma máquina de gelo seco na festa.
O procurador diz que não foi possível concluir se o equipamento foi usado ou não e que o sistema de detecção de incêndio não funcionava bem. O inquérito ainda permanece em segredo de Justiça. (Fonte: G1)