Espalhada por 49 mil quilômetros quadrados, a Ilha do Marajó fica no norte do estado do Pará e é banhada pelo oceano Atlântico e por rios imensos, como o Amazonas. A paisagem combina áreas de mata fechada, com campos, várzeas e alagados; fazendas antigas e muitos rebanhos de búfalos.
No litoral do município de Salvaterra, no leste da ilha, os moradores vivem principalmente da pesca, de pequenos roçados e do aproveitamento de uma semente da floresta, que vem ganhando importância nos últimos anos: a andiroba. O produto rende um óleo vegetal procurado por indústrias de cosméticos.
A exploração da andiroba é ligada não apenas às florestas, mas também aos rios, lagos e igarapés. Um aproveitamento tradicional depende inclusive do movimento das marés. Com nome científico Carapa guianensis, a andirobeira cresce bem em terra firme, mas também gosta de baixadas e áreas alagadiças.
Um dos líderes do trabalho com a andiroba no município é João dos Anjos. Ele explica que rios da região são muito influenciados pelo sobe e desce das marés. O leito do Paracauari, por exemplo, aumenta bastante na maré cheia e as águas acabam invadindo a floresta, duas vezes por dia.
No leito do Paracauari, galhos, folhas e frutos são carregados pelas águas, inclusive as sementes de andiroba, também conhecidas como castanhas. O produto vai sendo levado pela correnteza até a boca do rio. Uma viagem lenta e constante em direção ao mar.
Depois de flutuar por várias horas, dias, as vezes até semanas, as castanhas de andiroba acabam chegando em praias. É justamente em lugares assim, à beira mar, que as famílias da região fazem a coleta do produto. O serviço não tem dificuldade. Nos meses de safra, entre fevereiro e junho, as praias da região ficam cheias de gente.
Só que até há alguns anos, as famílias só usavam a andiroba para fazer um óleo caseiro, que serve como repelente e anti-inflamatório. O aproveitamento comercial era muito limitado. A virada começou em 2006, quando ribeirinhos fundaram uma cooperativa para vender a produção em conjunto. Nessa época, uma indústria produtora da óleos começou a comprar a andiroba em quantidade e de maneira regular.
Para garantir o fornecimento seguro da andiroba, a indústria deu cursos de capacitação e tem ajudado os ribeirinhos a planejar as atividades. Toda a andiroba que chega da praia passa por lavagem e também por uma seleção. Por cada quilo de semente, os cooperados recebem R$ 0,95. É cinco vezes mais do que pagavam os atravessadores da ilha.
Além da andiroba, a cooperativa também vende outros produtos de espécies nativas, em menor quantidade. É o caso das sementes de ucuúba e de murumuru – uma palmeira da floresta.
Outra novidade é que os cooperados instalaram uma mini agroindústria que está começando a produzir o óleo da andiroba. A semente é triturada, cozida e depois colocada numa prensa. Especialista no assunto, João dos Anjos explica que o óleo é mais valioso do que as sementes e também tem mercado garantido. A venda do produto deve começar em 2013.
Ao longo de 2012, a venda de sementes de andiroba garantiu um ganho extra de cerca de R$ 2.100 para cada família de cooperados. Vale notar que a coleta só ocorre durante cinco meses do ano e as famílias continuam tocando atividades tradicionais, como pesca e agricultura.
Saindo do Marajó, os produtos da cooperativa são levados para o continente, até o município de Ananindeua, onde funciona uma das unidades de uma indústria brasileira que nos últimos anos se tornou especialista em óleos da Amazônia.
Com sede em São Paulo, a Beraca compra frutos, sementes, raízes e óleos de mais de 100 comunidades, como explica o químico Elias Gomes: “Um trabalho que envolve 1.630 famílias, espalhadas por 4 estados da Amazônia.” Segundo ele, a empresa recebe 15 produtos nativos. “Cada semente tem a sua época, a sua estação, mas nós dimensionamos a fábrica para os 12 meses do ano.”
A empresa faz dezenas de tipos de óleos e gorduras vegetais. O objetivo é vender esses produtos para outras indústrias, que fabricam perfume, xampu, sabonete, hidratante. (Fonte: Globo Natureza)