Cientistas tentam ‘driblar’ malária resistente

Um estudo sobre a sensibilidade do parasita da malária a drogas deu uma excelente pista de como contornar o problema do aumento da resistência desse micróbio a medicamentos e, com isso, criar tratamentos mais eficazes contra uma doença que afeta meio bilhão de pessoas por ano em todo o mundo.

O parasita é transmitido por picadas de mosquitos do gênero Anopheles. Conhecido como plasmódio, o parasita tem um complexo ciclo de vida tanto dentro do mosquito como no homem, infectando em formas diversas a glândula salivar do inseto, o sangue e o fígado humanos.

O novo estudo, feito pela equipe de Leann Tilley, da Universidade de Melbourne, Austrália, mostrou que diferentes estágios de vida do parasita têm diferentes sensibilidades às artemisinas, drogas populares hoje no tratamento da malária.

“Nosso estudo sugere que a razão pela qual o parasita é capaz de se tornar resistente às artemisinas é que elas têm uma sobrevivência curta na corrente sanguínea”, disse Tilley à Folha.

A equipe conseguiu realizar experimentos “em proveta” capazes de imitar o que acontece na infecção pelo plasmódio no ser humano.

Os resultados mostram como a resistência a drogas pode surgir da ação combinada da curta sobrevivência do medicamento no organismo e do momento do desenvolvimento do parasita.

“Felizmente, esse novo trabalho também sugere que novos medicamentos antimaláricos, os endoperóxidos semelhantes à artemisina, vão ajudar a evitar o desenvolvimento de resistência”, declara a pesquisadora.

Para ela, vai ser difícil parar a tendência do parasita de adquirir resistência. “Ele vai eventualmente desenvolver resistência a qualquer droga que desenvolvermos.”

O que é possível, afirma ela, é tornar mais lento o desenvolvimento da resistência, ao garantir que as drogas sempre sejam usadas em certas combinações.

A estratégia, segundo Tilley, também precisa incluir o fim do tráfico de medicamentos falsificados, que costumam conter doses menores das drogas – uma praga típica do Terceiro Mundo, onde, aliás, se concentram os casos da doença. (Fonte: Folha.com)