Febre alta, dores pelo corpo, calafrios e náuseas. Os sintomas que a jornalista Janaína Souza apresentou uma semana depois de uma pescaria, no interior do estado de Roraima, são os mesmos que outras 242 mil pessoas sofreram no Brasil apenas em 2012. Esse é o número de casos de malária registrados pelo Ministério da Saúde, concentrados especialmente na região Norte.
O número de mortes provocadas pela moléstia caiu 76% nos últimos 11 anos, mas ainda não existe vacina para prevenir a malária. Evitar a picada do mosquito Anopheles, transmissor da doença é, por enquanto, a melhor profilaxia.
Mas uma nova descoberta promete contribuir para romper o ciclo da doença. A pesquisa liderada pela cientista holandesa Renate Smallegange mostrou que os mosquitos infectados pelo parasita da malária Plasmodium faciliparum – responsável pela forma mais grave da enfermidade – são mais atraídos pelo odor humano que mosquitos não infectados.
O próximo passo será descobrir quais são exatamente os componentes odoríficos que atraem o inseto. Na prática, a pesquisadora sugere que esses “ingredientes” poderiam ser usados para atrair os mosquitos contaminados para armadilhas. “Assim poderemos capturá-los antes que pudessem picar os seres humanos e transmitir a malária”, explica.
Pesquisas anteriores já haviam identificado alterações no comportamento de mosquitos hospedeiros quando contaminados. Um trabalho feito por cientistas brasileiros em 2000 revelou pistas nesse sentido. Na época, eles descobriram que os mosquitos portadores do parasita atacavam com mais incidência mulheres grávidas que não grávidas. As mudanças hormonais e fisiológicas foram apontadas como alguns dos prováveis fatores.
O pesquisador Ricardo Lourenço de Oliveira, do Instituto Oswaldo Cruz, sugere ainda outra possibilidade para combater a malária: a manipulação genética do mosquito a fim de impedir o reconhecimento de determinadas substâncias odoríferas. “Isso faria com que o mosquito tivesse dificuldade em conseguir localizar as pessoas”, teoriza.
Outra alternativa seria a produção de moléculas que funcionariam como repelente exalado naturalmente, também como forma de evitar que o mosquito encontrasse facilmente os humanos. “Trabalhar com alterações genéticas é uma tendência nessa área”, complementa.
Não existe vacina – Essas soluções podem reduzir o número de contágios, uma vez que ainda não existe vacina eficaz para prevenir a doença. Pós-doutor pelo Instituto Pasteur, Oliveira explica que a dificuldade está na grande variabilidade genética do parasita da malária, que se reproduz de forma sexuada no mosquito. Além disso, embora o Plasmodium faciliparum seja o causador da forma mais grave da doença, ainda são encontradas outras variantes do parasita no Brasil, como o Plasmodium vivax, responsável pela maioria dos casos.
O próprio cientista foi vítima do mosquito. Enquanto capturava amostras para pesquisa, ele foi picado e contaminado pelo Plasmodium vivax. Outros 200 milhões de casos são registrados a cada ano no mundo, causando 770 mil mortes a cada 12 meses. “Malária é uma coisa muito ruim”, resume Oliveira.
Por hora, a única prevenção é evitar as picadas. As únicas armas disponíveis contra a doença são o diagnóstico rápido e o tratamento imediato e preciso, que tenta eliminar o ciclo do parasita no sangue. (Fonte: Terra)