Talvez você nunca coloque os olhos em um dendezeiro, mas ele provavelmente é uma parte íntima da sua vida diária. Quer comece o dia barbeando-se ou passando batom, certamente você está colocando azeite de dendê no rosto. Você compra um sonho a caminho do trabalho e, a cada dentada, engole parte do azeite com o qual ele foi preparado. Saindo do trabalho, você passa no supermercado e quase a metade dos produtos nas prateleiras contém o produto. Antes de se deitar, esfrega o rosto com sabonete e escova os dentes: duas formas de o óleo de palma, como o produto também é conhecido, lhe dar boa noite.
Nas duas últimas décadas apenas o dendezeiro (“Elaeis guineensis“) se tornou uma enorme indústria mundial. Em 1961, as plantações de dendezeiro produziam 1,7 milhão de toneladas de azeite; hoje em dia, a cifra subiu para 64 milhões anuais. Um único acre de dendezeiros pode gerar até US$ 4,5 mil anualmente. Tais preços provavelmente vão continuar altos nas próximas décadas, à medida que aumenta a demanda pelo azeite. China e Índia, por exemplo, estão passando a usar o óleo para fritar comida e alguns países o estão explorando como biocombustível.
Porém, o segmento do dendezeiro também é um desastre ambiental, segundo muitos biólogos da conservação. A árvore “cresce melhor nas partes do mundo que abrigam florestas tropicais”, disse Ben Phalan, da Universidade de Cambridge. “A expansão do dendezeiro nas últimas décadas foi um dos principais propulsores do desflorestamento no Sudeste Asiático.”
A expansão ajudou a deixar muitas espécies, como o elefante-pigmeu e os orangotangos, perto da extinção. O setor do dendê também está deixando sua marca na atmosfera. Alguns agricultores utilizam o fogo para limpar a terra para plantar, e florestas alagadas transformadas em produtoras de dendezeiros se tornam mais propensas a queimar. Armazenando quantidades imensas de carbono, as florestas o liberam na atmosfera quando são trocadas por plantações.
Na semana passada, uma equipe de cientistas malaios e norte-americanos publicou dois estudos na “Nature” sobre o genoma dessa planta de importância tão profunda. Em seus 34.802 genes, eles conseguiram reconstruir os milhões de anos de sua evolução. A esperança é empregar o conhecimento para cultivar plantas melhores que produzam mais óleo – possivelmente reduzindo a pressão sobre as florestas tropicais que ainda restam no mundo.
Os biólogos da conservação saúdam a pesquisa, mas alertam quanto ao potencial de ajudar a crise ambiental. De acordo com eles, a solução do problema do dendezeiro está além do seu DNA.
O ancestral do dendezeiro se distanciou das tamareiras há cerca de 70 milhões de anos. Ele cresceu pela África e América do Sul, que então ainda estavam unidas. Ao longo de milhões de anos, os dois continentes se separaram, levando as plantas junto. E no decorrer do tempo, o dendezeiro se tornou oleoso.
A maioria das plantas que dão flor tem óleo nas sementes como forma de sustentar os descendentes com o fornecimento de energia. Porém, algumas também produzem óleo nos frutos para atrair animais, que comem a fruta e espalham as sementes nas fezes. A equipe de genoma descobriu algumas modificações moleculares por trás dessa evolução. Por exemplo, o dendezeiro trocou alguns genes do óleo da semente nos frutos.
Os pesquisadores descobriram que um único gene, batizado Shell, tem um efeito potente sobre quanto óleo é produzido por variedades diferentes da planta. Mutações no Shell podem elevar a produção do dendê em até 30 por cento.
Agora, por exemplo, os produtores de mudas poderão testar as sementes para ver se carregam a versão de produção elevada do Shell, em vez de esperar seis anos até a planta se transformar em uma árvore produtora de frutos.
Os pesquisadores também esperam que a divulgação pública do genoma permita que outros cientistas encontrem mais genes que podem ser úteis no aprimoramento do dendezeiro, tais como na resistência à seca e doenças. “Não vamos parar por aqui”, disse Ravigadevi Sambanthamurthi, bioquímico da Comissão do Dendê da Malásia e coautor do estudo. Financiada pelo governo malaio, a Comissão pagou a maior parte da pesquisa.
Para os pesquisadores, melhorias motivadas pelo genoma no dendezeiro poderiam permitir que os agricultores produzissem mais óleo em menos terra. Na “Nature”, eles afirmam que o genoma vai “ajudar a conquistar a sustentabilidade para os biocombustíveis e óleos comestíveis, reduzindo a pegada da floresta tropical desta cultura tropical”. Enquanto alimento, o óleo de palma tem um índice alto de gorduras saturadas, consideradas prejudiciais pela Associação Cardíaca Norte-Americana.
O novo estudo é “uma grande revolução”, disse David Edwards, biólogo da conservação da Universidade James Cook, Austrália. “A única maneira pela qual seremos capazes de alimentar a população humana projetada entre nove e dez bilhões sem grandes ondas de desflorestamento será pelo aumento na produção da cultura.”
Todavia, Edwards e outros biólogos da conservação duvidam que as melhorias motivadas pelo genoma possam proteger as florestas em si. Se as plantações se tornarem mais rentáveis, as empresas agrícolas e pequenos produtores terão um incentivo para plantar mais dendezeiros. “O que aumenta a pressão na conversão da terra em plantação”, disse Lisa Curran, da Universidade Stanford.
“Também é necessário ter vontade política para garantir que as florestas estejam realmente protegidas”, afirmou Phalan. (Fonte: Portal iG)