Foi inaugurado oficialmente, no dia 12 de agosto, no porto de Santos, no litoral de São Paulo, o barco oceanográfico Alpha Delphini. A inauguração contou com a presença de Celso Lafer, presidente da FAPESP, e de João Grandino Rodas, reitor da Universidade de São Paulo (USP), entre outras autoridades, além de pesquisadores do Instituto Oceanográfico (IO), da USP.
Construído inteiramente no Brasil, o barco integra um projeto submetido à FAPESP pelo IO no âmbito do Programa Equipamentos Multiusuários (EMU). A embarcação foi construída com o objetivo de aumentar a capacidade de pesquisa em Oceanografia no Estado.
Outra iniciativa do IO, nessa mesma linha, foi a aquisição do navio oceanográfico Alpha Crucis, inaugurado em maio de 2012, que já fez até agora sete cruzeiros, incluindo de testes e para fins de pesquisa.
“O Alpha Delphini complementa o Alpha Crucis e supre uma carência que tínhamos desde a interrupção das operações do navio Professor W. Besnard, porque tem autonomia equivalente à dele, mas com custo menor e maior possibilidade de realização de manobras marítimas”, disse Michel Michaelovitch de Mahiques, diretor do IO-USP, à Agência FAPESP, durante a inauguração.
A paralisação do navio Professor W. Besnard – utilizado de 1967 até 2008, quando sofreu um incêndio e ficou sem condições operacionais de pesquisa – limitou drasticamente os estudos oceanográficos no Estado de São Paulo.
A fim de superar esse entrave, os pesquisadores do IO-USP submeteram quase que ao mesmo tempo as propostas de aquisição do Alpha Crucis e do Alpha Delphini à FAPESP, por se tratar de embarcações complementares.
“Quando os professores da USP apresentaram à FAPESP as propostas para a construção do Alpha Crucis e do Alpha Delphini, a Fundação se dispôs, imediatamente, a apoiar os dois projetos por entender sua importância para o avanço da pesquisa em Oceanografia no Estado de São Paulo”, disse Lafer.
Na inauguração no Porto de Santos, o barco Alpha Delphini, o navio Alpha Crucis e o Professor W. Besnard foram ancorados lado a lado no armazém número oito.
Mahiques explicou que o Alpha Delphini tem autonomia e capacidade de pesquisa intermediária entre as pequenas embarcações e os navios oceanográficos e cobre a área de plataforma continental – que começa na linha da costa e atinge até 200 metros de profundidade.
O custo total do barco foi de R$ 6 milhões. O programa EMU da FAPESP destinou R$ 4,4 milhões para a construção da embarcação. O restante – motores e uma série de equipamentos científicos – foi financiado com recursos do próprio IO-USP.
Sua autonomia de navegação é de 10 a 15 dias, dependendo do número de tripulantes, e ele poderá operar em toda a faixa de 200 milhas marítimas da fronteira litorânea.
Projeto nacional – Alguns dos fatores que pesaram na escolha do estaleiro Indústria Naval do Ceará (Inace), segundo Rolf Roland Weber, professor aposentado do IO-USP e coordenador do projeto, foi que – apesar de até então não ter experiência com barcos para fins de pesquisa oceanográfica – existe há 42 anos, constrói embarcações offshore para a Petrobras, já prestou muitos serviços para a Marinha do Brasil e conta com uma equipe de engenheiros formados pelas melhores instituições do país.
“Realizamos uma série de reuniões com os representantes da empresa, para as quais foram convidados todos os professores do IO-USP, para sugerir adaptações e modificações no projeto básico da embarcação, a fim de atender às necessidades de pesquisa oceanográfica”, disse Weber.
“A construção do Alpha Delphini permitirá à Inace ter agora uma base para desenvolver projetos de barcos oceanográficos com maior rapidez e menor custo”, avaliou.
De acordo com o pesquisador, o Alpha Delphini levou um ano e sete meses para ser construído e possui mais de 10 mil componentes. À exceção dos sistemas de navegação e do sistema eletrônico, a maior parte dos componentes – como os dois motores a diesel, os geradores e a máquina de leme do navio oceanográfico – é nacional, destacaram os pesquisadores.
“O projeto do barco e a maior parte dos componentes são nacionais”, disse José Gustavo Imakawa, professor do IO-USP, também presente na inauguração.
Imakawa integra o comitê gestor de embarcações da instituição, que, além do Alpha Crucis e do Alpha Delphini, possui outros dois barcos pequenos de pesquisa – o Albacora e o Velliger 2 –, ancorados em suas bases costeiras de ensino e pesquisa em Cananéia e Ubatuba, no litoral de São Paulo, e que em breve também deverão ser substituídos.
Na semana que vem, os integrantes do comitê realizarão uma reunião para começar a agendar as viagens do Alpha Delphini. Os pesquisadores estimam que a demanda para utilização do Alpha Delphini será maior do que a procura pelo Alpha Crucis, entre outros fatores, por ter custo de operação menor. “Estimamos que o Alpha Crucis sairá menos, porém com intervalo maior de tempo de viagem”, avaliou Mahiques.
Segundo o pesquisador, como previsto no programa EMU, o barco poderá ser solicitado para pesquisas de qualquer universidade, inclusive de instituições privadas. Mas o regulamento estabelece prioridade para certos casos, como os projetos financiados pela FAPESP e para uso de pesquisadores do IO-USP. Em seguida, têm preferência os projetos das outras duas universidades estaduais paulistas – Unesp e Unicamp.
Primeira expedição – Antes de chegar na semana passada a São Paulo, o Alpha Delphini realizou no período de 16 a 29 de julho sua primeira expedição científica no litoral de Pernambuco, entre a ilha de Itamaracá e o arquipélago de Fernando de Noronha, passando também pela zona costeira de Recife.
A expedição fez parte de um Projeto Temático, realizado por pesquisadores do IO-USP em parceria com a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e com a participação da Agence Nationale de la Recherche (ANR), da França, no âmbito de um acordo entre a FAPESP e a Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco (Facepe).
O objetivo da expedição foi avaliar o papel das regiões oceânica e costeira de Pernambuco como absorvedoras ou liberadoras de carbono e identificar quais zonas atuam de uma forma ou de outra.
Região de bifurcação da corrente marinha que vem da África e que se divide – com uma parte da massa d’água seguindo em direção à região Norte e outra para a região Sul do Brasil –, a zona oceânica de Pernambuco sempre foi pouco compreendida, de acordo com Elisabete de Santis Braga, professora do IO-USP e coordenadora do projeto.
Por sua vez, a região costeira pernambucana registrou nos últimos anos um aumento nas emissões de carbono tanto de fração orgânica como de inorgânica, em razão de fatores como o aumento desordenado da ocupação humana.
“Embarcamos mais de 27 alunos de mestrado e doutorado e pesquisadores da UFPE durante a expedição. Muitos alunos nunca tinham entrado em uma embarcação”, contou Braga.
Para obter informações sobre transporte de carbono nas regiões oceânica e costeira de Pernambuco, os pesquisadores participantes da primeira expedição coletaram amostras de água e de organismos, como fitoplâncton, para medir a fertilidade da água e o potencial que apresenta para produzir organismos do primeiro nível da cadeia alimentar marinha.
Os pesquisadores contaram com o auxílio de uma embarcação menor em Fernando de Noronha – onde há recifes de coral – e de um laboratório em terra, na UFPE, para armazenamento das amostras de materiais coletados.
“O projeto foi multidisciplinar, envolvendo áreas como Geologia, Biologia, Química e Física”, disse Braga. “Foi uma feliz coincidência a oportunidade de o barco oceanográfico fazer um deslocamento de Fortaleza a Pernambuco e realizarmos a primeira expedição científica da embarcação na região”, afirmou Braga.
De acordo com a pesquisadora, pelo plano inicial, o barco faria um cruzeiro de teste no litoral de Fortaleza, nas proximidades do estaleiro Inace, e desceria para São Paulo, onde seria oficialmente inaugurado.
Os pesquisadores participantes do projeto no âmbito do acordo da FAPESP com a Facepe, no entanto, já haviam agendado a expedição e estavam com uma série de dificuldades para encontrar, no Nordeste, uma embarcação oceanográfica que pudesse ser alugada para a expedição. Nesse intervalo de tempo, o Alpha Delphini ficou pronto.
“Além da pesquisa, essa expedição possibilitou trocar experiências entre pesquisadores do Sudeste e do Nordeste , testar os equipamentos e identificar quesitos que, eventualmente, não atendessem completamente as necessidades de pesquisa”, disse.
O Alpha Delphini deverá passar por vistoria e ajustes nos próximos dias e ficar pronto para novas expedições em setembro. A embarcação dispõe de guinchos hidráulicos para arrasto de redes de plâncton e equipamentos de sondagem, como o CTD (em inglês: conductivity, temperature, depht), para obtenção de dados sobre a condutividade (usada para o cálculo da salinidade), temperatura e profundidade do mar, além da corrente, a velocidade do fluxo e a direção das massas de água.
Quando não estiver em expedições, o barco ficará ancorado no armazém número oito do Porto de Santos. A ideia dos pesquisadores é de que, fora da fase de pesquisas, a embarcação permaneça aberta à visitação pública.
“Com essa flotilha de embarcações para fins de pesquisa, a USP se tornou uma das instituições de pesquisa mais bem aparelhadas para realizar pesquisa oceanográfica não só no Brasil, como também no mundo. Agora, não nos faltam meios flutuantes e equipamentos para essa finalidade”, disse Mahiques. (Fonte: Agência Fapesp)