O fogo já destruiu um quinto da reserva xavante Marãiwatsédé, em Mato Grosso, no que algumas autoridades suspeitam que seja uma vingança de não-índios desalojados no ano passado dessa região produtora de soja e gado.
Imagens de satélite feitas na última semana mostraram que mais de 400 incêndios foram iniciados no território indígena, segundo a Funai (Fundação Nacional do Índio).
A reserva Marãiwatsédé se tornou um caso emblemático das crescentes tensões no Brasil entre índios e fazendeiros, que têm explorado novas áreas na esperança de lucrar com a crescente produção de milho, soja e outras commodities nos últimos anos.
Centenas de disputas desse tipo estão em curso no país, levando a presidente Dilma Rousseff a intervir para evitar a violência. No caso da reserva Marãiwatsédé, o governo determinou que cerca de 7.000 residentes não-índios deixassem a área sem indenização, depois de decisão judicial favorável aos índios no ano passado.
A reserva havia sido criada em 1998, mas alguns produtores rurais não-índios permaneciam ali. Em outubro, quando a desocupação foi anunciada, agricultores armados realizaram protestos, dispersados por tropas federais munidas de gás lacrimogêneo e balas de borracha.
Os aparentes incêndios criminosos na reserva Marãiwatsédé sugerem que ex-grileiros continuam buscando vingança e que as tensões podem crescer em remotas fronteiras agrícolas brasileiras.
A Funai diz “acreditar que é bastante possível que isso seja uma retaliação contra a desintrusão”, disse por telefone, de Brasília, a coordenadora da agência para a prevenção de atividades ilícitas, Tatiana Vilaça.
Cumprindo o que determina a Constituição, o governo federal entregou a grupos indígenas nas últimas décadas quase 13% do território nacional. Mas a atual valorização dos produtos agrícolas nos mercados internacionais gera uma pressão pela expansão da fronteira agrícola, motivando conflitos em áreas produtivas.
Muitos agricultores dizem ter títulos fundiários comprovando a propriedade de terras destinadas pelo governo aos índios com base em estudos antropológicos.
O governo federal diz que vai começar a indenizar fazendeiros que sejam retirados por causa das demarcações em outras áreas, e a criação de novas reservas está sendo adiada.
Vilaça disse que bombeiros enviados à Marãiwatsédé disseram ter visto forasteiros com caminhões perto das chamas. A Funai não tem provas contra ninguém e pediu à Polícia Federal que garanta a proteção dos índios e identifique os eventuais incendiários.
Policiais estaduais em Alto Boa Vista, cidade mato-grossense vizinha à reserva, disseram que alguns moradores acusaram os próprios índios de iniciarem os incêndios. Uma porta-voz disse que a polícia estadual não investigará o caso porque as reservas indígenas são áreas federais.
O Ibama diz que 31 mil dos 165 mil hectares da reserva foram consumidos até 16 de agosto num incêndio de “origem criminal”. A agência ambiental disse que a frequência desses incêndios e sua origem sempre próxima a estradas indicam que não se trata de um fenômeno natural. Não houve relatos de feridos.
“Há, também, o risco do fogo perder o controle e atingir lavouras e propriedades fora da terra indígena”, afirmou o Ibama em nota. (Fonte: UOL)