O Sol que não rugiu: cientistas tentam compreender baixa atividade solar

Estamos no ponto máximo do ciclo solar de 11 anos, chamado de máxima solar. A face do Sol deveria estar esburacada de manchas solares, e explosões cataclísmicas de raios X e partículas deveriam sibilar para todos os lados.

Em vez disso, o Sol está tranquilo, quase sem manchas.

Como W. Dean Pesnell, cientista do projeto do Observatório da Dinâmica Solar, da Nasa, observou secamente: “Não temos muito de uma máxima solar.”

Uma semana atrás, uma mancha solar solitária desfigurava um disco amarelo imaculado. Nos dias seguintes, surgiram mais alguns pontos, mas até mesmo uma explosão pequena ou ejeção de massa coronal, na quinta-feira passada, pareciam a tentativa indiferente de uma estrela preguiçosa.

“Na verdade, pouca coisa está acontecendo”, afirmou Joseph M. Kunches, cientista espacial do Centro de Previsão Climática Espacial. “Realmente um fiasco. Você dá uma olhada no Sol hoje e fica sem entender nada.”

Para quem depende do trabalho de Kunches, como operadores de satélite e empresas de energia, essa é uma notícia boa. Uma das preocupações em nossa civilização altamente tecnológica do século XXI é que um golpe direto na Terra de uma tempestade solar colossal desligue satélites e sobrecarregue fileiras de redes elétricas. Um Sol tranquilo torna tudo isso muito menos provável.

Para os cientistas tentando compreender a dinâmica no interior do Sol, esta tem sido uma experiência humilde lhes esclarecendo o quanto desconhecem. “Se teve alguém que entendeu isso, eu não fiquei sabendo, com certeza”, afirmou Douglas Biesecker, físico do Centro de Previsão Climática Espacial e chefe de um grupo de especialistas que publicou previsões sobre o ciclo solar.

Eles têm uma compreensão básica do processo. Dentro do Sol, fluxos de elétrons e prótons geram campos magnéticos que ondulam em uma agenda de aproximadamente 11 anos. A agitação desses campos criam regiões mais frias e escuras – as manchas solares. Os campos magnéticos serpenteantes dentro das manchas solares estalam periodicamente, liberando quantidades enormes de energia em explosões solares e ejeções de massa coronal.

Contudo, alguns ciclos solares são ferozes enquanto outros permanecem calmos. Por que o ciclo é de 11 anos também continua sendo um mistério.

Este ciclo, o 24º desde que os cientistas começaram a fazer registros, tem sido desconcertante desde o começo. Alguns esperavam um ciclo ativo, semelhante aos do passado recente. Outros previam que seria mais tranquilo do que o habitual; tais previsões pareciam prescientes enquanto a calmaria da mínima solar se alongava por mais tempo e de forma mais profunda do que o esperado. Em 2008, o Sol não apresentou manchas durante 266 dias – o mais

imaculado em meio século. No ano seguinte, quando a propagação das manchas solares deveria ter recomeçado, o Sol ficou em branco durante 260 dias.

A atividade solar foi retomada em 2010 e, principalmente, em 2011. A seguir, o número de manchas começou a cair novamente. O que não foi necessariamente uma surpresa. Em alguns ciclos anteriores o hemisfério norte do astro se tornou ativo antes, e os cientistas esperavam um segundo pico de manchas enquanto o hemisfério sul entrasse no período ativo.

O hemisfério sul realmente começou a recuperar a energia, mas depois se nivelou e ficou assim durante o último ano, gerando mais perplexidade. “Com toda a sinceridade, dá a impressão de que o Sol não consegue se decidir”, afirmou Biesecker. “É apenas essa coisa plana, sem qualquer movimento.”

Caso não exista um segundo pico, e a máxima solar aconteceu na verdade há dois anos, então, o Ciclo Solar 24 seria extremamente estranho – começando tarde e terminando cedo. “O que me surpreenderia é se não retomasse no próximo ano”, disse Pesnell.

Até onde os cientistas precisam recuar para encontrar uma máxima solar tão fraca? Até quando os torcedores do Chicago Cubs comemoraram a última taça do campeonato de beisebol dos Estados Unidos.

O Ciclo 14, do começo do século XX, foi igualmente tranquilo. O Chicago Cubs venceu o campeonato de 1908, cerca de um ano depois da máxima daquele ciclo solar. Desta vez, os cientistas solares vêm observando o sol com satélites que fornecem resmas de dados a serem analisados. “Pela primeira vez, observaremos um ciclo solar que é bem diferente daqueles vistos antes”, explicou Pesnell.

Ainda segundo ele, já ficou aparente que os padrões de fluxo dentro do Sol são mais complicados do que se supunha.

Apesar das manchas solares mínimas, o Sol ainda está passando pelo resto do ciclo como sempre. Seu campo magnético está prestes a ser invertido, como esperado. Na máxima solar, os campos magnéticos dos polos – em essência – desaparecem por um breve período e, quando reaparecem, apontam na direção oposta. Uma bússola no polo norte do Sol que apontasse para o norte antes da máxima solar, apontaria na direção sul depois da máxima. (Na verdade, a bússola seria vaporizada.) O polo norte já se inverteu; o polo sul está atrasado, mas no mês passado os cientistas do Observatório Solar Wilcox, da Universidade de Stanford, disseram esperar que a transição fosse completada em breve.

“Estamos vendo indicações de que a máxima solar está para acontecer”, afirmou Pesnell. (Fonte: Portal iG)