A notícia que cientistas na Califórnia conseguiram produzir energia pela primeira vez em um laboratório por meio da fusão nuclear alimenta a esperança que o processo sirva para gerar energia sem limites no futuro.
Os pesquisadores do Centro de Ignição do Laboratório Nacional Lawrence Livermore, que faz parte do Departamento de Energia e abriga as maiores instalações de laser do mundo, com 192 aparatos que ocupam o espaço de um estádio de futebol, acabam de revelar suas conquistas na revista “Nature”.
Durante o experimento em setembro do ano passado, os cientistas dirigiram a energia do laser mais potente do mundo a um alvo do tamanho de uma ervilha situado no interior de uma pequena lata dourada, o que desencadeou uma reação de fusão que liberou uma enorme quantidade de energia durante uma fração de segundo.
O laser tem a capacidade de projetar brevemente sobre seu alvo mais energia que a que se usa em um determinado momento em todo os Estados Unidos.
O experimento conseguiu replicar o poder do sol, que propaga energia graças às reações de fusão que se produzem em seu núcleo e nas quais os átomos de hidrogênio se transformam em hélio.
O Centro Nacional de Ignição da Califórnia, no qual o governo investiu US$ 5,3 bilhões, nasceu com o objetivo de produzir fusão nuclear, um processo no qual os átomos de hidrogênio se comprimem até que se fundem em átomos de hélio, da mesma forma que ocorre no sol.
O êxito de setembro se repetiu durante um segundo experimento em novembro, segundo explicou à “Nature” Omar Hurricane, físico do laboratório californiano e principal autor do artigo publicado na revista.
Em ambos casos, a fusão de hidrogênio gerou mais energia que a que se injetou inicialmente para favorecer o processo, embora os especialistas ressaltem que o sistema de raios é pouco prático porque apenas cerca de 1% da energia inicial alcança o hidrogênio.
Mesmo assim, tanto os pesquisadores que fazem parte do projeto, como a comunidade científica em geral e os meios de comunicação, qualificaram o ocorrido como um grande passo adiante.
“Pela primeira vez obtivemos mais energia no combustível que a que injetamos” ao usar esta técnica, afirmou Hurricane em declarações ao jornal “The Wall Street Journal”.
Apesar do avanço, os pesquisadores estão ainda longe de conseguir o que se conhece como ignição, que permite gerar mais energia que a consumida em uma cadeia autossustentável e sem a qual o processo de geração energética mediante fusão não seria prático.
O laboratório não conseguiu alcançar em setembro de 2013 seu alvo de conseguir ignição termonuclear, na qual a reação é autossustentável e gera toda a energia que seja necessária para operar os raios.
O processo é similar ao de acender um fósforo para queimar uma pilha de madeira.
Durante os experimentos de setembro e novembro, grande parte da energia se dissipou e não conseguiu alcançar o combustível.
Mesmo assim, representa a primeira conquista concreta após anos de insucessos e promessas fracassadas e oferece um modelo concreto de como poderia funcionar um reator de fusão nuclear.
Os Estados Unidos testaram a primeira bomba de hidrogênio em 1952, que gerou uma grande quantidade de energia mediante a fusão de átomos, mas essa geração aconteceu toda de uma vez.
O que se busca com os raios é criar uma reação muito menor e manejável.
A esperança dos cientistas é que este processo conduza em última instância a uma geração abundante de energia limpa, que poderia substituir os combustíveis fósseis e a fissão nuclear e seus perigosos resíduos radioativos.
As usinas nucleares atuais geram eletricidade mediante fissão, que envolve a separação dos átomos. Na fusão, os núcleos atômicos se comprimem em um ambiente de grande calor e pressão para gerar energia.
Entre os aspectos mais promissores dos experimentos realizados em setembro e novembro figura o fato de que o núcleo do hélio gerado pela explosão da fusão inicial aqueceu os átomos de hidrogênio próximos.
Na atualidade só uma pequena parte do hidrogênio se funde e para que o sistema do laser seja efetivo, as reações de fusão teriam que propagar-se ao resto do combustível de hidrogênio. (Fonte: UOL)