Falta de assistência do governo pode afetar meta brasileira contra efeito estufa

O Brasil terá de intensificar a integração de lavoura, pecuária e florestas se quiser atingir a meta proposta pelo governo federal de reduzir as emissões de 166 milhões de toneladas de CO2 por hectare até 2020. O objetivo – apresentado em 2009 na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 15), em Copenhague (Dinamarca) – enfrenta o atraso do governo federal em oferecer assistência técnica para essa integração.

A conclusão é de um estudo desenvolvido pela Universidade de Campinas (Unicamp) e Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que coletaram amostras do solo amazônico entre agosto de 2012 e agosto do ano passado.

Conhecido como ILPF, a Integração Lavoura Pecuária Floresta pode recuperar pastagens degradadas em terras do Acre, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins diminuindo as emissões de gases causadores do efeito estufa ao combinar atividades florestais, pecuárias e agrícolas.

Primeiro cultiva-se uma espécie florestal com espaço para culturas como milho e soja. Depois de três anos de cultivo, em média, a área é coberta por um tipo de planta que alimenta o gado, permitindo a sua criação até o corte da madeira. A técnica, aliada à captura de carbono, é a espinha dorsal do Plano ABC (Economia de Baixa Emissão de Carbono na Agricultura), lançado pelo governo em meados de 2010.

De acordo com o levantamento, o ILPF precisa ser ampliado ao ponto de retirar 5,4 toneladas de CO2 por hectare até 2020 – um total de 21 milhões de toneladas. “Hoje, esse número é negativo em três toneladas”, explicou ao iG Eduardo Assaad, diretor da Embrapa que conduziu o estudo.

O sistema também recuperaria as pastagens e melhoraria a dieta do gado, reduzindo o tempo de abate e a consequente emissão de gás metano. Com a medida, outras 150 milhões de toneladas de CO2 por hectare deixariam de ser produzidas no mesmo período. Somados esses valores, a meta brasileira seria atingida.

O problema, afirmaram os especialistas que compareceram à apresentação do estudo nesta terça-feira (25), é que o governo lançou o programa, mas não ofereceu assistência técnica aos interessados. Presente no evento, ocorrido na Fundação Getúlio Vargas (FGV), o diretor de agropecuária do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento), Carlos Viana Costa, admitiu que o banco de fomento ainda está se adaptando.

“O que estamos fazendo é entender porque o programa não deslanchou”, disse ele. “O que se observou foi um desconhecimento técnico sobre o assunto, que criou dificuldade para o banco fazer o fomento do programa.”

Como solução, o BNDES pretende se aliar à Embrapa “para formar técnicos bancários capazes de analisar os projetos e criar roteiros básicos para investimentos nas próprias agências.” “Esperamos que, em abril, a gente consiga esse acordo e, a partir de maio, 500 técnicos estejam treinados nas tecnologias do ABC.”

Desmatamento e Agronegócio – Os debatedores elogiaram a redução do desmatamento amazônico, que caiu de 25 mil metros quadrados por ano, em 2005, para 4 mil metros quadrados em 2010. Antes responsável por 57% das emissões de gases venenosos no ar, os desmatamentos cederam seu lugar no topo ao setor agropecuário, hoje emissor de 35% desses gases.

“A rápida expansão do setor agropecuário no Brasil nos últimos anos ocasionou a mudança do uso da terra e colocou o setor como um dos maiores responsáveis pela emissão na produção agrícola – com o uso de fertilizantes – e pecuária – com uso de áreas desmatadas e emissão de metano pelo rebanho bovino”, admite o estudo. (Fonte: Portal iG)