A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) participará, da próxima segunda-feira (31) ao dia 2 de abril, da 2ª Conferência Global sobre Biofortificação, na cidade de Kigali, em Ruanda, na África. O encontro vai tratar sobre os avanços em torno do desenvolvimento de alimentos mais nutritivos para a população mundial, os desafios que ainda têm de ser superados e a integração de experiências e projetos de alimentos biofortificados, em vigor nos diferentes países.
Dentre os representantes brasileiros que participarão da conferência, destaque para a pesquisadora da Embrapa Agroindústria de Alimentos (EAA), Marília Nutti, líder da Rede Brasileira de Biofortificação (Rede BioFORT), que existe desde 2003 e envolve cerca de 150 pesquisadores de várias unidades da Embrapa, de universidades e de institutos de pesquisa estaduais e federais no desenvolvimento de projetos alimentares no Brasil.
Com financiamento da Agência de Desenvolvimento Internacional do Canadá (Cida), do Departamento de Desenvolvimento Internacional do Reino Unido (Dfid) e da Fundação Bill e Melinda Gates, a Rede BioFORT utiliza melhoramento genético convencional, com a finalidade de aumentar o conteúdo de micronutrientes dos cultivares (variedades) de arroz, feijão, batata-doce, mandioca, milho, feijão-caupi, abóbora e trigo. Isso permite que novas culturas sejam geradas com maiores teores de pró-vitamina A, ferro e zinco, que combatem a deficiência de micronutrientes no organismo humano, chamada fome oculta, que provoca anemia e cegueira noturna, entre outras doenças.
Marília Nutti falou na sexta-feira (28) à Agência Brasil e destacou que o Brasil é o único país que trabalha com pesquisas de oito cultivos. “E a gente já conseguiu lançar dez cultivares, entre feijão, feijão-caupi, abóbora, batata-doce e, no ano que passou, conseguiu uma variedade de milho com maiores teores de pró-vitamina A — um produto voltado para a agricultura familiar ”, comemorou.
Em paralelo, a Rede BioFORT começou a fazer termos de compromisso com alguns municípios, aos quais repassa sementes para que eles possam plantar e distribuir para pequenos agricultores. A produção é vendida para as próprias prefeituras, com vistas a abastecer a merenda escolar. Marília disse que outra possibilidade, que sendo testada em escolas agrícolas do Piauí, é a plantação de cultivares biofortificados de batata-doce e feijão-caupi, para a alimentação dos próprios alunos. “O Brasil está com uma série de ações, algumas ainda de pesquisa. Mas a gente está indo muito bem”, salientou.
Marília Nutti revelou que a Rede BioFORT foi convidada a coordenar os trabalhos em conjunto, na América Latina, com participação da Nicarágua e Guatemala, dentre outros países, e adiantou que a rede deve trabalhar também em parceria com pesquisadores do Haiti. Países que, segundo ela, têm altos índices de deficiência nutricional. No ano passado, a EAA começou a organizar a rede de parceiros com universidades e institutos de pesquisa da Nicarágua. Os trabalhos serão iniciados com cultivares de arroz, feijão e milho.
Na Guatemala, o foco serão os cultivares de feijão e milho, que compõem a dieta da população local. Já existem variedades desenvolvidas pelo Instituto de Pesquisa Agropecuária, empresa similar à Embrapa no país. Para o Haiti, a EAA já enviou diversos cultivares, biofortificados ou não, para testar a adequação no solo local. A expectativa é colher dados a partir do próximo ano. No Panamá, a rede já trabalha em conjunto, porque lá a biofortificação é uma política do governo do país. Na Colômbia, há também cooperação na parte da pesquisa.
A meta dara 2015, no Brasil, é continuar o trabalho que está sendo desenvolvido com abóbora e trigo, além de avaliar a parte nutricional desses produtos, em parceria com universidades. “A gente começa a pensar na avaliação de impacto, em um trabalho diretamente ligado à população”, esclareceu Marília Nutti. A ideia é elaborar um estudo controlado dos cultivares, com o estabelecimento de um cardápio à base de produtos biofortificados, e depois de um tempo medir os impactos por meio de exames de sangue, para conseguir ver como os micronutrientes estão sendo absorvidos. “É um teste muito apurado”.
No Piauí, ela acrescentou que a estratégia envolve, além da plantação de cultivos biofortificados pelos próprios estudantes das escolas agrícolas, a disseminação dos novos cultivares nas famílias dos próprios alunos e para os agricultores familiares da região, que vivem da produção de subsistência. “A gente percebe que isso está melhorando a vida dessas pessoas”, adiantou.
Ela fez questão ainda de esclarecer que os cultivares biofortificados são desenvolvidos com melhoramentos convencionais, e não devem ser confundidos com alimentos transgênicos. “Biofortificação não é transgenia”, assegurou a líder da rede BioFORT. Marília completou que a partir do cruzamentos de cultivares, os pesquisadores estão conseguindo melhorar a quantidade de micronutrientes, bem como a produtividade dos produtos e a resistência a pragas. (Fonte: Agência Brasil)