Uma espécie de coral trazido por plataformas de petróleo estão matando as espécies nativas da costa fluminense, segundo o Ministério Público Federal no Rio de Janeiro (MPF-RJ). O coral-sol entrou nos mares brasileiros preso a plataformas de petróleo e gás encomendadas pela Petrobras, que passaram pelo Estaleiro Brasfels, em Angra dos Reis, na Costa Verde.
O MPF-RJ promoveu na segunda-feira (28) uma audiência pública para discutir e melhor compreender a proliferação do coral, que já invadiu a costa de Angra, Paraty, Mangaratiba, Rio, Niterói, Arraial do Cabo e Búzios. Para uma das idealizadoras da audiência, a procuradora Monique Cheker, não houve divergência no encontro quanto à existência da espécie invasora e dos danos causados por ela, mas sim quanto aos métodos utilizados para combatê-la. “Algo tem que ser feito de forma efetiva e com prioridade. Não adianta fazer pesquisas com término de cinco a dez anos, se temos um problema hoje para resolver”, declarou a procuradora. “O MPF vai considerar os estudos com métodos imediatos e eficazes para cada uma das regiões já afetadas”, completou ela.
Participaram do encontro moradores, pescadores e políticos das regiões afetadas, representantes da Petrobras, do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama), o Instituto Chico Mendes da Biodiversidade, (ICMBio), do Instituto Estadual do Ambiente (Inea), Instituto de Estudos do Mar Almirante Paulo Moreira, Estaleiro Brasfels, da mineradora Vale, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e do Consórcio Projeto Coral-Sol. Os representantes da Vale e da Petrobras apresentaram projetos de limpeza subaquática da bioincrustação do coral-sol. Moradores de Ilha Grande alegaram que comunidades tradicionais de pescadores estão sofrendo com a invasão.
A vice-presidenta do Inea, Denise Rambaldi, informou que o instituto identificou cerca de 170 espécies invasoras na costa do estado. O professor da Uerj Joel Creed apontou outras regiões litorâneas brasileiras, propícias à bioinvasão do coral-sol, e alertou que a erradicação só é possível no início da detecção da espécie. “Com a bioinvasão estabelecida é muito difícil atingir 100% de recuperação”, disse ele. O representante do Instituto de Estudos do Mar Almirante Paulo Moreira (IEAPM) Ricardo Coutinho disse que o instituto desenvolveu a primeira tinta de origem natural que impede a bioincrustação e que pode ser utilizado como forma de prevenção contra o coral.
Um inquérito civil público foi instaurado e identifica a presença do coral nos terminais da Petrobras, da Brasfels e da Vale, na região de Angra. Cheker explicou que o MPF está investigando como compensar os danos da bioinvasão do coral-sol. “Através dos inquéritos, vamos identificar causas e responsáveis e, ao fim, compensar e paralisar o dano ambiental”, declarou.
A Baía de Ilha Grande é a mais afetada, segundo as investigações, porque a temperatura da água é mais elevada, principalmente nas proximidades das usinas nucleares, o que facilita a proliferação da espécie. Técnicos da Estação Ecológica de Tamoios, formada por 29 ilhas no sul fluminense, retiraram meia tonelada de coral-sol somente neste mês. Foram utilizadas seis embarcações com cerca de 50 pessoas. Em 2013, foram retiradas 12 mil colônias da espécie exótica.
Além do Rio de Janeiro, mais quatro estados brasileiros já estão contaminados pelo coral-sol: Santa Catarina, Espírito Santo, São Paulo e Bahia. Não há regulamentação no Brasil específica sobre bioinvasão por bioincrustação. (Fonte: Agência Brasil)