Agricultura influenciou diferenças culturais na China, sugere estudo

Ao longo dos séculos, os cultivos de arroz no sul da China e os de trigo no norte forjaram mentalidades diferentes que explicariam o contraste cultural entre as duas regiões do país, defende um estudo publicado nesta sexta-feira (9) na edição impressa da revista “Science”.

A necessidade de cooperação entre os rizicultores ao longo das gerações no sul da China forjou uma cultura de interdependência, explicou Thomas Talhelm, da Universidade da Virgínia, principal autor de um estudo sobre o tema.

No norte, ao contrário, onde predomina a cultura do trigo, a população é mais individualista, o que reflete uma forma de agricultura independente ao longo dos séculos. Os chineses do norte são vistos como mais agressivos e independentes, enquanto os do sul são considerados mais cooperativos e interdependentes.

A população chinesa é consciente dessas diferenças culturais entre as regiões norte e sul, separadas pelo Yangtzé, o rio mais longo da China, que corre de oeste a leste. Segundo os cientistas, essas distinções de caráter foram atribuídas a vários fatores, como diferenças climáticas – sendo o sul mais caloroso e o norte mais rigoroso -, o que afeta a agricultura, sem dúvida alguma, observaram os pesquisadores.

Mas, de acordo com eles, essas diferenças temperamentais do povo chinês se desenvolveram durante milênios e parecem ter sido forjadas, sobretudo, pelos dois grandes tipos de cultivo.

Juntos ou separados – A rizicultura requer uma mão de obra muito numerosa e duas vezes mais tempo para plantar e colher do que o trigo, explicaram os autores.

Além disso, uma vez que o arroz cresce na água em terras irrigadas, é necessário partilhar a água e abrir canais que devem ser constantemente mantidos. Sendo assim, os rizicultores são impelidos a trabalhar juntos para construir e conservar as infraestruturas das quais dependem todos os cultivos de arroz. Esse tipo de atividade criou uma cultura de interdependência nas regiões do sul da China, avaliou Thomas Talhelm.

O trigo, ao contrário, é cultivado em terras secas e dependentes de chuvas. Sendo assim, os agricultores podem depender de si mesmos, o que forjou o espírito independente predominante na cultura dos chineses do norte. “Os dados coletados para esta pesquisa sugerem que as heranças da agricultura continuam a influenciar as populações do mundo moderno”, ressaltou Thomas Talhelm. “Isto produziu duas psicologias culturais distintas, que são um espelho das diferenças entre o Sudeste Asiático e o Ocidente”, concluiu. (Fonte: G1)