Um grupo de cientistas conseguiu fazer o vírus HIV infectar macacos e provocar Aids nesses animais pela primeira vez. O feito é importante porque pode permitir a realização de testes de novos medicamentos e vacinas para a doença com esses animais, de forma que os resultados obtidos sejam o mais próximo possível dos humanos.
Até então, apenas os humanos eram capazes de desenvolver a doença, e os estudos em macacos eram feitos com o vírus SIV, que causa uma doença semelhante nesses animais, mas não igual. A pesquisa, feita em laboratórios americanos, foi publicada na sexta-feira (20) na revista Science.
A espécie asiática Macaca nemestrina foi escolhida para receber o vírus por apresentar menos defesas naturais ao HIV do que outros primatas. Ainda assim, os pesquisadores tiveram que alterar o vírus e o sistema imunológico do animal para que a doença o atingisse. “Os pesquisadores modificaram o HIV para que ele se comportasse nesse tipo de macaco exatamente igual ele se compota em humanos”, disse Ricardo Shobbie Diaz, infectologista da Unifesp, ao site de VEJA.
Mecanismo – Os cientistas inseriram no HIV uma parte do vírus SIV responsável por desarmar as defesas do sistema imunológico dos animais, possibilitando a infecção. Eles então fizeram o vírus passar de um animal para o outro, resultando em seis gerações de animais infectados, para que esse HIV ligeiramente modificado pudesse se adaptar ao seu novo hospedeiro. Mesmo depois disso, porém, o sistema imunológico dos animais ainda resistia à doença, sendo capaz de controlar a infecção.
De acordo com Diaz, que não esteve envolvido na execução do estudo, pesquisas anteriores já haviam mostrado que as células do sistema imunológico conhecidas como CD8 atuam nos macacos contra a vírus SIV, então os pesquisadores decidiram enfraquecer essas células nos animais, e assim conseguiram fazer com que a doença se instalasse.
“Quando a quantidade de células CD8 foi reduzida, os macacos infectados desenvolveram uma doença muito semelhante à Aids em humanos. Eles apresentaram, por exemplo, algumas condições que definem a presença da doença, como contrair pneumocistose, infecção oportunista causada por um fungo”, disse Theodora Hatziioannou, professora da Universidade Rockefeller e principal autora do estudo. “Como isso reproduz o que acontece quando o HIV compromete o sistema imunológico de um paciente humano, nossa abordagem tem potencial para ser utilizada no desenvolvimento de terapias e medidas preventivas.”
Para Diaz, a descoberta pode representar um avanço no estudo da Aids. “Poderemos começar a entender como o HIV age no organismo, além de trabalhar no desenvolvimento de medicamentos e vacinas. É um modelo mais fiel ao humano do que nós tínhamos antes”, afirma. (Fonte: VEJA.com)