Uma nova espécie de árvore descoberta na região da Chapada Diamantina, na Bahia, foi considerada nesta quinta-feira (17) “em perigo de extinção” por pesquisadores responsáveis pelo achado.
Batizada de Anteremanthus piranii, em homenagem ao botânico e professor da USP (Universidade de São Paulo), José Rubens Pirani, autor de estudos sobre botânica no Brasil, a árvore descoberta cresce até cinco metros de altura e nasce entre fendas de rochas.
Os ramos dela têm coloração creme, as folhas são verde-acinzentada e as flores de pétalas brancas possuem um lilás nas pontas.
A árvore é encontrada em locais com altitude entre 800 a 900 metros de altura, numa área de transição entre caatinga e cerrado.
A descoberta ganhou destaque na penúltima edição (maio deste ano) de uma das revistas de botânica mais conceituadas dos Estados Unidos, a “Systematic Botany”.
A novidade é levada aos botânicos do mundo por meio de artigo da bióloga baiana Fernanda Afonso e da pesquisadora em botânica Nádia Roque, ambas da UFBA (Universidade Federal da Bahia).
Fernanda Afonso afirma que não foi possível fazer estudos para dimensionar o tamanho da população da árvore, encontrada na Serra Geral do município de Licínio de Almeida. “Percebemos que [a árvore] ocorre em poucos pontos e muito próximos entre si. Devido, principalmente, a distribuição geográfica restrita, foi considerada como criticamente em perigo de extinção”, disse Fernanda.
Surpresa – A árvore foi descoberta durante pesquisas de mestrado de Fernanda, entre 2011 e 2012. O trabalho dela era realizar “o levantamento florístico das espécies da família Asteraceae”, na Serra Geral de Licínio de Almeida.
A pesquisadora conta que não tinha como missão encontrar espécies novas da família Asteraceae. Ter achado “foi uma surpresa maravilhosa”, relatou Fernanda.
Para considerá-la como espécie nova para a ciência, ela realizou estudos sobre habitat; em laboratório, com amostras da árvore; consultas a acervos de herbários e contou com o apoio da pesquisadora Nádia Roque, especialista na família Asteraceae.
Com as pesquisas, relata Fernanda, “chegamos então ao gênero Anteremanthus, até o momento representado por uma única espécie encontrada em Grão Mogol (MG), a ‘Anteremanthus hatschbachii'”.
“Como havia diferenças morfológicas importantes entre a espécie que foi coletada em Licínio de Almeida e a de Grão Mogol, concluímos que a primeira se tratava de uma espécie nova”, afirmou.
Propriedades – O fato de ser a segunda espécie de um gênero que só possuía uma única espécie torna a Anteremanthus piranii “bastante interessante”, assim como o fato de ocorrer em área de distribuição geográfica restrita, apresentar hábito arbóreo e se desenvolver sobre rochas.
Sobre possível utilização da árvore pela ciência ou pela indústria farmacêutica, somente com mais estudos. E é bem possível que ela venha a ter utilidade, já que as espécies da família Asteraceae têm a camomila, a arnica e o girassol.
Para a pesquisadora Fernanda Afonso, o interesse científico demonstra o quanto a área da Chapada Diamantina – com destaque para a Serra Geral de Licínio de Almeida – é especial.
Ali ocorrem pesquisas sobre conhecimento da flora desde 2011. Já são três mestrados concluídos, dois em andamento e três iniciações científicas também por terminar.
Fernanda Afonso diz que “os resultados dos estudos são importantes para fundamentar projetos que visem a preservação do ecossistema local e que poderão contribuir para a criação de uma tão sonhada e urgente unidade de conservação”.
Segundo ela, a “exploração ilegal de minérios, a caça e o desmatamento indiscriminado” que ocorrem na região são ameaças constantes ao ecossistema. (Fonte: UOL)