O rio Piracicaba registra, no trecho que corta o centro de Piracicaba (a 160 km da capital paulista), índice de poluição que supera cinco vezes o observado em rios com poluição considerada aceitável. Os dados são do Cena (Centro de Energia Nuclear de Agricultura), que funciona na Esalq (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz), na USP (Universidade de São Paulo) da cidade.
A medição, realizada na terça-feira (19), foi feita pelo pesquisador Plínio Barbosa de Camargo e atingiu índice de condutividade elétrica de 944. Quanto mais alto esse valor, mais o rio conduz eletricidade, o que indica maior presença de poluentes. O nível aceitável para o Piracicaba é de 150. “Se fosse um rio limpo, o nível de condutividade iria variar entre 100 e 200”, explica Camargo.
O pesquisador informou ainda que o manancial tem uma série de indicadores ruins. O pH da água, por exemplo, está em 7,63, quando o ideal seria 7. Já o nível de oxigênio no rio durante a medição foi de 2,90 miligramas por litro, quando o ideal seria de 5 mg/l. “Fazemos a medição há 17 anos e não vejo melhora no índice de poluição. Temos, ao lado do Piracicaba, o rio Corumbataí, que tem índice de 170. Isso mostra o quão poluído o Piracicaba está”, afirma.
O pesquisador diz que a situação do manancial piora por conta do tempo seco, mas ressalta que a poluição é observada durante o ano inteiro. “Em dezembro, o índice era de 550, passou para 660, em fevereiro, e 750, em julho. Quanto mais seco, pior. Mas não significa que antes era aceitável”, disse.
Três vezes mais cloro – A Esalq utiliza água do rio Piracicaba para abastecimento de todo o campus, onde há cerca de 5.000 estudantes, professores e servidores. O sistema da instituição tem sido obrigado a utilizar uma dosagem três vezes maior de cloro para fazer a purificação da água, em comparação com o que era utilizado em 2009. “E assim é com boa parte dos produtos químicos utilizados, tão grande é o nível de poluição”, disse Camargo.
O professor ressalta ainda que o alto índice de poluição, aliado ao baixo índice de oxigênio, pode ser fatal para a vida no ambiente do rio. “Tivemos na semana passada mais uma mortandade de peixes. As águas estão com muitos poluentes e pouco oxigênio, o que mata os peixes”, disse.
Em fevereiro, 20 toneladas de peixes morreram e, na última quarta, pelo menos uma tonelada de peixes chegou a morrer no centro de Piracicaba por conta do problema. Em ambos os casos, de acordo com a Cetesb, os peixes morreram por falta de oxigênio na água.
A instituição afirmou que o trecho onde a última mortandade foi registrada tinha 0,3 miligrama de oxigênio por litro de água, quando o mínimo necessário para manter os peixes vivos é de 2 mg/l. Abaixo desse valor, os animais não conseguem captar o oxigênio, o que os tornam mais suscetíveis a doenças.
De acordo com a Cetesb, o quadro é causado pela “severa estiagem” vivida pelo Estado de São Paulo. “A vazão do Piracicaba encontra-se muito reduzida e, dessa forma, o rio torna-se muito mais vulnerável, pois apresenta baixa capacidade de diluição dos poluentes, com a consequente diminuição da concentração de oxigênio dissolvido na água.”
O rio Piracicaba apresentou, na semana passada, a menor vazão dos últimos 30 anos na série histórica de medição do DAEE (Departamento de Água e Energia Elétrica). A vazão chegou a 10,93 mil litros de água por segundo, com nível de apenas 79 centímetros no trecho urbano de Piracicaba, ambos recordes negativos. A média para agosto é de 55,5 mil litros de água/segundo de vazão e nível de 1,42 metro de profundidade. (Fonte: UOL)