Um manto têxtil pré-inca com 2 mil anos de antiguidade, que representaria um calendário agrícola da cultura Paracas, está em exibição a partir desta sexta-feira (26) em Lima, surpreendendo por sua simbologia e bom estado de conservação.
O chamado Manto Calendário é considerado por especialistas como um dos têxteis arqueológicos mais importantes do mundo por sua antiguidade, desenhos e técnica de confecção, que permite ver figuras de animais em formato tridimensional.
A peça valiosa foi recuperada com outros têxteis que tinham sido vendidos do Peru ilegalmente para a Suécia quase um século atrás e foi devolvida em junho passado por um museu de Gotemburgo.
“É uma peça única no mundo. É a estrela dos 89 mantos recuperados após permanecer ilegalmente mais de oito décadas na Suécia”, disse à AFP Carmen Thais, chefe da área de têxteis do museu.
“O manto teria sido tecido entre os anos 200 a.C a 200 d.c. Ele tem 32 quadros e em cada um deles, há uma figura que marca épocas estacionárias na sociedade Paracas”, comentou.
Ela explicou que a técnica do tecido é conhecida como ‘looping’ (anelado), que possibilita a confecção de estampas tridimensionais.
Foi tecido em algodão e lã de camelídeos e tem 104 cm de comprimento por 51 de largura.
Nos diferentes quadros é possível ver nos menores detalhes condores, gatos monteses, camarões, rãs, espigas de milho, aves como o beija-flor e a perdiz, e homens trabalhando a terra.
“Os desenhos foram tecidos com agulha de cactus, com fios finos de camelídeos para as cores nas quais predomina o vermelho”. Para obter a coloração “foram usadas plantas, minerais e, em outros casos, a própria cor da alpaca ou da vicunha”, explicou.
Cada quadro foi feito em separado e em seguida, unido à peça para formar um manto de grande beleza, cheio de iconografia, disse Thais.
Paracas foi uma importante civilização do período denominado “Formativo Superior ou Horizonte Precoce”, que se desenvolveu na atual província peruana de Pisco, região de Ica, no sul do país. Os têxteis paracas eram considerados os mais belos entre os produzidos na época pré-hispânica por sua beleza artística e o simbolismo de suas imagens.
Acredita-se que o Mando Calendário fosse um “ñañaca”, uma espécie de toca que teria feito parte de um enxoval funerário de um alto hierarca. A elite Paracas usava abundantemente em seu vestuário têxteis como mantos, ponchos curtos, turbantes coloridos, tapa-sexos ou waras, camisas ou unkus e saias.
Segundo acordo com as autoridades suecas, a coleção de peças Paracas será devolvida ao Peru, gradativamente, até o ano 2021. O manto ficará em exibição duas semanas no Museu de Arqueologia, Antropologia e História de Lima, antes de ser levado a um recinto especial para sua conservação. (Fonte: G1)