Em Cuba, especialistas alertam para risco do ebola nas Américas

Autoridades sanitárias de 32 países americanos, inclusive dos Estados Unidos, encerrarão nesta quinta-feira (30), em Havana, uma reunião técnica de dois dias para desenhar uma resposta conjunta diante do “risco real” de que o ebola chegue ao continente.

Esta cúpula – que permitiu uma cooperação inédita entre Cuba e Estados Unidos – deve terminar com a aprovação das recomendações de quatro comissões de trabalho: diagnóstico e vigilância epidemiológica, manejo clínico de pacientes, capacitação de profissionais de Saúde e comunicação social.

A encarregada da resposta ao ebola da Organização Pan-americana de Saúde (OPS), Sylvain Aldighieri, advertiu que existe um “risco real” de que a epidemia chegue ao continente. Até agora, houve apenas dois contágios: duas enfermeiras americanas que contraíram o vírus após cuidar de um doente vindo da África.

Aldighieri insistiu que “fortalecer essas capacidades (de resposta à epidemia) são uma responsabilidade nacional, que vai além do setor da Saúde”.

Segundo o boletim mais recente da Organização Mundial de Saúde (OMS), a epidemia de ebola teve 13.703 infectados e matou 4.920 pessoas – a grande maioria em Libéria, Guiné e Serra Leoa. Esse número supera em quase quatro mil o balanço anterior, divulgado no último sábado, de dez mil casos, mas a OMS atribuiu o aumento a registros anteriormente não reportados, somados às estatísticas.

O vírus se manifesta com febre, vômitos, diarreia e dores e é transmitido por contato direto com fluidos corporais.

“As grandes dificuldades nos ensinam sempre. É preciso que essa experiência constitua um deflagrador para aumentar a cultura sanitária dos nossos povos”, disse em plenária o reitor da Universidade de Ciências Médicas de Havana, Jorge González.

Participam do encontro em Havana delegados de Estados Unidos, Canadá e 30 países latino-americanos e caribenhos, assim como membros de organizações internacionais.

Cuba se colocou na vanguarda da luta contra a epidemia, apesar de suas dificuldades econômicas, enviando 256 médicos e enfermeiros aos países mais afetados pela epidemia na África.

‘Isolar casos suspeitos’ – Na quarta-feira, delegados de 25 países expuseram os planos de contingência adotados por seus respectivos governos, coincidindo em que se deve fortalecer as medidas de controle em portos, aeroportos e fronteiras terrestres.

Na comissão de vigilância, os especialistas recomendaram monitorar os viajantes vindos dos países afetados.

“As pessoas provenientes de países de alta transmissibilidade devem ser observadas e, se for necessário, devem ser isoladas em instalações montadas especificamente para tratar os casos de ebola”, afirmou a especialista da OPS Waleska de Andrade, citada pela imprensa cubana.

Enquanto isso, membros da comissão de manejo clínico recomendaram “estabelecer mecanismos nacionais para diagnosticar e isolar rapidamente os supostos casos de infecção, levando em conta as manifestações clínicas iniciais (…), o histórico de exposição reportado pelo paciente, ou obtido na investigação epidemiológica”, de acordo com o jornal cubano “Granma”.

‘Envolver líderes locais’ – Na comissão de capacitação, as propostas giraram em torno de aproveitar as tecnologias de informação para preparar pessoal a distância.

No grupo de comunicação, especialistas recomendaram manter a população informada, ainda que evitando criar alarme, e envolver líderes comunitários nessa tarefa.

“É preciso envolver os líderes locais, criar planos nacionais de comunicação de riscos que contenham informação técnica sobre a doença”, disse Leticia Lynn, comunicadora da OPS.

O representante dos Estados Unidos, Nelson Arboleda, destacou no primeiro dia que seu país está disposto “a cooperar com todos os atores que estão trabalhando na região para assegurar que tenhamos uma resposta eficiente em nível mundial contra esse vírus”.

Estados Unidos e Cuba multiplicaram as cordialidades em torno da luta contra o Ebola, quebrando a tradição de relações conflituosas e recriminações mútuas que mantêm desde a Guerra Fria.

Convocada há dez dias por presidentes dos nove países da Aliança Bolivariana para as Américas (Alba), a conferência começou na quarta-feira com um minuto de silêncio pelo economista cubano Jorge Juan Guerra, morto de malária domingo, na Guiné, enquanto trabalhava como administrador da brigada médica cubana que combate o Ebola na África. (Fonte: G1)