Espécie de morcego pode ser responsável pela epidemia de Ebola

Morcego da espécie Miniopterus inflatus tem 1/5 de genoma do vírus de ebola (Foto: Flickr/KD Dijkstra)
MORCEGO DA ESPÉCIE MINIOPTERUS INFLATUS TEM 1/5 DE GENOMA DO VÍRUS DE EBOLA (FOTO: FLICKR/KD DIJKSTRA)

epidemia de Ebola que atingiu a África Ocidental entre 2013 e 2016 pegou o mundo de surpresa. O vírus nunca havia sido encontrado na região, sendo que todos os surtos anteriores ocorreram em países da África Central ou Sudão. E isso representou um mistério: de onde veio o vírus Ebola Zaire?

Um novo estudo pode ter a resposta: perto da entrada de uma mina abandonada na Libéria, cientistas capturaram um morcego que provavelmente estava infectado com Ebola Zaire. Eles não isolaram o vírus em si, mas encontraram cerca de um quinto de seu genoma no animal.

Segundo os pesquisadores, ainda é cedo para dizer exatamente se é a mesma linhagem que devastou a região. Fabian Leendertz, epidemiologista do Instituto Robert Koch, na Alemanha, considera uma importante pista a ser seguida.

Fragmentos de ARN (ácido ribonucleico) viral foram encontrados em uma amostra bucal de um morcego de dedo grande e comprido (Miniopterus inflatus), capturado em 2016 no distrito de Sanniquellie-Mahn, na fronteira com a Guiné.

O animal, que vive em muitas partes da África, se esconde em cavernas e se alimenta de insetos. Cientistas haviam encontrado duas outras espécies de Ebola em um morcego relacionado a insetos antes, o M. schreibersii. No entanto, a maioria das outras evidências apontam para morcegos frugívoros como portadores do Ebola Zaire. “Este é um vírus que tem múltiplos hospedeiros, e pode ser regional dependendo de qual espécie o carrega”, falou Jon Epstein, epidemiologista da EcoHealth Alliance em Nova York, nos Estados Unidos.

“Uma questão levantada por este achado é se a amostra positiva realmente aponta para um morcego infectado ou pode derivar de um inseto portador do vírus que o morcego comeu”, acrescentou Leendertz.

Morcego M. schreibersii também pode carregar vírus do ebola (Foto: Steve Bourne/Wikimedia Commons)
MORCEGO M. SCHREIBERSII TAMBÉM PODE CARREGAR VÍRUS DO EBOLA (FOTO: STEVE BOURNE/WIKIMEDIA COMMONS)

A descoberta deve reforçar mensagens de saúde pública para evitar contato direto com os morcegos, como não caçá-los, comê-los ou matá-los. “A boa notícia é que a espécie não é tipicamente encontrada em habitações humanas”, comentou Epstein.

Epidemia preocupante
A descoberta traz dados sobre a história natural do Ebola, que confundiu especialistas por décadas. “É a primeira evidência de qualquer morcego portador do vírus Ebola Zairena região”, afirmou Epstein. “Isso nos permite ter uma visão mais profunda e tentar entender de onde veio o vírus.”

Os resultados do estudo ainda não foram publicados, mas foram divulgados por Tolbert Nyenswah, diretor do Instituto Nacional de Saúde Pública da Libéria, em uma coletiva de imprensa em Monróvia. “Esta era uma descoberta importante para trazer ao público, independente de uma publicação científica”, declarou Simon Anthony, da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos.

A Libéria tem cerca de quatro milhões de habitantes, e o vírus adoeceu mais de 10 mil pessoas e matou quase metade delas. Um comunicado de imprensa do Ministério da Saúde e da Previdência Social do país enfatizou que não há casos humanos conhecidos de ebola no país no momento.

Em 2018, a PREDICT, entidade científica, anunciou a descoberta de uma espécie completamente nova de Ebola virus – provisoriamente chamada Bombali e não relacionada à epidemia – em morcegos na Serra Leoa.

Descoberta 
Em outros lugares da África, cientistas passaram décadas procurando por reservatórios naturais do Ebola, com poucos resultados. Para a pesquisa atual, financiada pela Agência de Desenvolvimento Internacional dos Estados Unidos, Simon Anthony testou mais de 11 mil amostras de morcegos, roedores e animais domésticos na África Ocidental. A nova descoberta foi o único teste positivo até agora.

Análises foram inicialmente ambivalentes sobre a presença do vírus. Anthony conseguiu recuperar apenas cerca de 20% do genoma completo do Ebola Zaire, mas esses fragmentos eram mais semelhantes à cepa que causou o surto na África Ocidental do que a qualquer outra estirpe (grupo de descendentes).

Os resultados sugerem que mais surtos podem atingir a região. “É uma chamada urgente para fortalecer a infraestrutura geral de saúde”, alertou Vincent Munster, pesquisador da Rocky Mountain Laboratories.

Fonte: Revista Galileu