Fóssil de “crocodilo” de 185 milhões de anos é descoberto na Inglaterra

Trata-se de um dos espécimes mais antigos do grupo de crocodilomorfos, parentes ancestrais dos répteis que conhecemos hoje em dia

O espécime, descoberto em 2017, está atualmente em exibição no Lyme Regis Museum em Lyme Regis, Dorset, na Inglaterra – FOTO: Divulgação/Júlia d’Oliveira

Pesquisadores descobriram o fóssil de uma nova espécie de réptil crocodilomorfo e a nomearam de Turnersuchus hingleyae. Esse ancestral dos crocodilos modernos foi encontrado na região da Costa Jurássica, em Dorset, no Reino Unido. Com boa parte de seus membros intactos, estima-se que o exemplar tenha vivido há 185 milhões de anos e, assim, é o único registro do animal durante a idade Pliensbaquiana, no Jurássico.

A avaliação sobre o animal foi publicada no Journal of Vertebrate Paleontology e os pesquisadores afirmam que o fóssil do predador ajuda a preencher uma lacuna no registro fóssil. Segundo eles, a descoberta sugere que a espécie deve ter se originado por volta do final do período Triássico, cerca de 15 milhões anos antes do que se pensava.

“Agora devemos esperar encontrar mais [répteis da ordem] Thalattosuchia da mesma idade que Turnersuchus [hingleyae] , bem como mais velhos”, aponta o coautor do estudo Eric Wilberg em comunicado à imprensa. “Durante a publicação do nosso artigo, outro texto foi publicado descrevendo um crânio thalattosuchiano descoberto no teto de uma caverna em Marrocos do Hettangiano/Sinemuriano (idades anteriores ao Pliensbachiano), o que corrobora essa ideia”.

Apesar da nova hipótese apontar para o surgimento da espécie no Triássico, nenhuma escavação encontrou Thalattosuchia em rochas do período, o que significa que há uma “linhagem fantasma”. Esse conceito diz respeito a um espaço de tempo no qual os cientistas estimam que um grupo deve ter existido, mas ainda não foram recuperadas evidências fósseis para se comprovar isso.

Até a descoberta de Turnersuchus, esse intervalo estendia-se do final do Triássico (há 201 milhões de anos) até o Toarciano (de 182,7 milhões a 174,1 milhões de anos atrás), no Jurássico. “Mas, agora, podemos reduzi-lo em alguns milhões de anos”, afirma a equipe de especialistas.

Por mais que sejam coloquialmente chamados de “crocodilos marinhos” ou “crocodilos do mar”, os Thalattosuchia são os parentes mais distantes desses animais. O grupo de cientistas explica que os animais não compartilham a mesma ordem: crocodilos e jacarés são Crocodilia.

Ao longo da evolução, os Thalattosuchia tornaram-se muito bem adaptados à vida nos oceanos. Os animais apresentavam membros curtos modificados em nadadeiras, barbatana caudal semelhante a de um tubarão, glândulas salinas e, provavelmente, a capacidade de dar à luz em vez de botar ovos.

O Turnersuchus, por sua vez, apresentava um focinho relativamente longo e fino, semelhante aos crocodilos gaviais atualmente vivos, e muitas das características Thalattosuchia reconhecidas ainda não haviam evoluído completamente nele. “No entanto, ao contrário dos crocodilos, o predador vivia exclusivamente em habitats marinhos costeiros e seus crânios — embora pareçam superficialmente semelhantes — eram construídos de maneira bastante diferente”, aponta Pedro Godoy, coautor brasileiro do estudo e pesquisadora da Universidade de São Paulo.

Fonte: Galileu