Há menos de dois meses no cargo, Juscelino Filho acumula controvérsias. Na mais recente, ele teria ocultado patrimônio de R$ 2 milhões do TSE, segundo jornal.
Há menos de dois meses no cargo, o ministro das Comunicações, Juscelino Filho (União Brasil), já acumula uma série de polêmicas.
A mais recente foi revelada nesta terça-feira (28/02) pelo jornal O Estado de S.Paulo. Segundo o periódico, o ministro não informou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) um patrimônio de pelo menos R$ 2,2 milhões em cavalos de raça na declaração de bens entregue no ano passado, quando concorreu – e foi eleito – para deputado federal pelo estado do Maranhão.
À lista de polêmicas, se junta o uso de um avião da Força Área Brasileira (FAB) para participar de um leilão de cavalos em São Paulo, quando já era ministro, e o uso de verbas do orçamento secreto para asfaltar uma estrada que passa por propriedades de sua família no Maranhão, na época que era deputado federal. Ambas as histórias também foram reveladas pelo O Estado de S.Paulo.
Cavalos de raça
A investigação do jornal mostra que, na época em que fez a declaração ao TSE em 2022, o atual ministro das Comunicações tinha ao menos 12 cavalos da raça Quarto de Milha, adquiridos em leilão. Quando concorreu pela primeira vez a deputado federal, em 2014, Juscelino chegou a declarar vários animais. Já em 2018 e 2022, ele não fez menção a animais.
No ano passado, ele declarou ao TSE um patrimônio de R$ 4,4 milhões – incluindo fazendas, carros, metade de uma aeronave, apartamento e o terreno onde está instalado um haras. De acordo com o jornal, o valor é quase o mesmo que ele movimentou em leilões desde 2018, período no qual também vendeu 14 animais da raça Quarto de Milha.
Haras no Maranhão
Não bastasse a omissão, os animais de raça são criados no haras do ministro, na cidade maranhense de Vitorino Freire, onde seu pai já foi prefeito e que atualmente é governada por sua irmã, Luanna Rezende. O local envolve outra polêmica: o atual ministro mandou asfaltar uma estrada que passa por fazendas da família com dinheiro do orçamento secreto, recebido quando era deputado federal. De acordo com O Estado de S.Paulo, Juscelino indicou mais de R$ 50 milhões em emendas do orçamento secreto.
Do valor, R$ 5 milhões foram usados para melhoria de 19 quilômetros da estrada que circunda ao menos oito fazendas da família. Quando a notícia veio a público, Juscelino argumentou que as propriedades beneficiadas são cercadas por “inúmeros povoados”. As verbas do orçamento secreto também foram usadas para contratar pelo menos quatro empresas de amigos, ex-assessoras e uma cunhada do ministro.
Em 2022, ele indicou R$ 16,4 milhões em verbas do orçamento secreto para projetos em Vitorino Freire, que tem pouco mais de 30 mil habitantes.
No papel, o haras pertence à irmã do ministro e a Gustavo Marques Gaspar, um ex-assessor da Câmara. No entanto, um funcionário do haras disse ao Estadão que não conhece nenhum Gustavo Gaspar.
De acordo com O Estado de S.Paulo, o terreno da propriedade de 165 mil metros quadrados pertencia à prefeitura de Vitorino Freire. Mas, em 1999, a área foi adquirida por Juscelino Filho por R$ 1 mil. Na época, ele tinha apenas 14 anos e seu pai, Juscelino Rezende, era o prefeito da cidade.
Em 2007, Juscelino Filho vendeu a área por R$ 50 mil para Gustavo Gaspar e readquiriu a propriedade em 2018 por R$ 167 mil.
Uso de avião da FAB para ir a leilão
E as polêmicas não param por aí: Juscelino Filho teria usado um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) para viajar de Brasília a São Paulo e participar de um leilão.
Oficialmente, o ministro justificou que seria uma viagem “urgente”, e partiu da capital federal na quinta-feira, dia 26 de janeiro. No entanto, a agenda oficial em São Paulo durou menos de três horas e terminou ao meio-dia de sexta-feira, 27 de janeiro. Mesmo assim, ele permaneceu na cidade até 30 de janeiro e, no fim de semana, assessorou compradores de animais, promoveu um de seus cavalos, recebeu um prêmio de criadores e inaugurou praça em homenagem a um cavalo de seu sócio.
Além do uso do avião da FAB, o ministro recebeu quatro diárias e meia, mesmo seus compromissos de trabalho tendo terminado ainda na sexta-feira. De acordo com O Estado de S.Paulo, a viagem custou cerca de R$ 140 mil.
Ao ser questionado sobre o fato pelo portal Poder360, os advogados do ministro responderam que a viagem “se tratava de agenda oficial” e tinha “claro interesse público”.
Chips para Terra Indígena
Recentemente, como ministro das Comunicações, Jucelino Filho também se envolveu em mais uma polêmica: enviou mil chips de celular para serem utilizados nas operações humanitárias na Terra Indígena Yanomami, em Roraima. No entanto, os chips não funcionam na área porque não há cobertura da operadora de celular.
Escolhido por “cota parlamentares”
Juscelino é médico radiologista, tem 38 anos e, embora escolhido pelo governo Lula para o ministério das Comunicações, não tem experiência na área.
A nomeação dele – no passado, apoiador de Bolsonaro e que votou a favor do impeachment de Dilma Roussef – faz parte das chamadas “cotas parlamentares” para facilitar a relação com o Congresso.
Ele foi eleito no ano passado para seu terceiro mandato como deputado federal e vem de uma família influente no Maranhão. No ano passado, o hoje ministro apresentou um único projeto na Câmara, justamente para criar o “Dia Nacional do Cavalo”.
Embora evite publicar em suas redes sociais postagens envolvendo sua paixão, os cavalos, ele aparece frequentemente em filmagens de leilões, sendo ovacionado.
Fonte: Deutsche Welle