O pesquisador norte-americano Thomas Lovejoy, responsável pela popularização do termo “diversidade biológica”, falou sobre desafios para o desenvolvimento e para a conservação na região amazônica no simpósio FAPESP-U.S. Collaborative Research on the Amazon, organizado pela FAPESP em parceria com o Departamento de Energia (DoE) dos Estados Unidos e com o Brazil Institute do Woodrow Wilson International Center for Scholars, nos dias 28 e 29 de outubro, em Washington.
“Olhando para a frente, penso que um dos maiores desafios para o desenvolvimento sustentável em todos os tempos será avançar na direção do planejamento e do gerenciamento integrado na Amazônia”, disse o professor da Universidade George Mason que recebeu em 2012 o Blue Planet Prize, considerado o “Nobel do Meio Ambiente”.
“Há muito tempo me preocupo com a Amazônia, onde estive pela primeira vez em 1965, em uma época em que o conhecimento sobre os sistemas físicos, químicos e biológicos sobre a região era tão limitado que se achava que o El Niño fosse um fenômeno limitado ao leste do Pacífico”, disse.
“É claro que a Amazônia sempre foi esse repositório incrível de diversidade biológica, provavelmente o maior em todo o planeta. E isso é algo valioso de todas as formas possíveis. Mas acho que também temos de pensar na região como uma biblioteca fundamental para as ciências da vida. Cada uma de suas espécies tem um valor extraordinário e pode representar uma solução para algum tipo de problema”, disse Lovejoy.
“A região amazônica representa a maior porção da biblioteca das ciências da vida em todo o mundo, mas representa muitas outras coisas também. Os pesquisadores palestrantes neste simpósio falaram sobre a importância da Amazônia no clima do ambiente, regional ou global, por exemplo. E eu penso muito sobre de que formas podemos avançar a noção de como gerenciar a Amazônia como um sistema. E isso é um desafio enorme, pois se trata de um sistema que envolve oito países diferentes. Por isso, será preciso ter tanto um planejamento integrado como um gerenciamento integrado”, disse.
Lovejoy também destacou que não se pode pensar nos desafios para a preservação na região amazônica sem levar em conta o papel fundamental das mudanças climáticas globais. E, segundo ele, muitos ainda ignoram esse problema real.
“Ao pensar em como muitas pessoas encaram as mudanças climáticas globais me vem a comparação com um furacão. Quando um furacão começa a se formar, ele é apenas uma espécie de depressão em algum lugar no Atlântico e aqueles que ouvem sobre ele acabam deixando para lá. Então, o furacão vai ficando mais forte e passa a aparecer na televisão com mais frequência. O tempo passa até que chega a manhã em que as pessoas olham para cima, surpresas ao notar que o céu está com uma cor muito estranha. Só então percebem que algo realmente importante vai acontecer. Do ponto de vista global, estamos nesse mesmo estágio com relação às mudanças climáticas. Podemos agir rapidamente e tentar limitá-las a um nível em que seja possível lidar com elas ou podemos simplesmente deixar que fujam de nosso alcance para sempre”, disse Lovejoy.
“Meu sonho quixotesco é aplicar em escala planetária as lições que a Amazônia nos oferece. E essas lições podem ser resumidas na noção de que o planeta não funciona apenas como um sistema físico, mas sim como um sistema físico e biológico. Quando essa noção estiver mais difundida, poderemos passar a ver uma interação muito mais respeitosa entre a humanidade e a natureza. E isso tem um aspecto maravilhoso, que é o fato de que todos podem dar a sua contribuição. Não podemos pensar nas mudanças climáticas como algo sobre o qual não se pode fazer nada, porque o fato é que podemos fazer sim”, disse. (Fonte: Agência FAPESP)