Com dois dias de atraso, líderes de 195 países presentes à Conferência Climática das Nações Unidas, em Lima, no Peru, chegaram a um acordo sobre um programa de metas de mitigação do aquecimento global.
Prevista para terminar na sexta-feira, o evento avançou pelo fim de semana adentro e foi apenas na manhã deste domingo que houve o anúncio sobre um compromisso com vistas à reunião de novembro do ano que vem em Paris.
As duas semanas de discussões foram marcadas por divergências entre países desenvolvidos e emergentes no que diz respeito ao controle de emissões dos gases-estufa.
Responsabilidade diferenciada – Os países emergentes, como o Brasil, defendem o argumento de que as nações mais desenvolvidas e com um histórico mais longo de industrialização deveriam atender a metas mais rigorosas do que o resto do mundo, conseguiram manter na pauta o princípio de “responsabilidade diferenciada”.
Tal argumento encontra a resistência de países como os EUA, que apontam para o fato de que, atualmente, nações desenvolvimento contribuem com mais da metade das emissões mundiais de gás carbônico, o principal gás relacionado ao aquecimento global.
Na sexta-feira, por exemplo, o secretário de estado americano, John Kerry, fez um forte discurso em Lima, conclamando os países emergentes a aceitar um pacote global de redução de emissões e afirmando que o mundo “caminha para um tragédia climática”.
“Conseguimos o que queríamos”, disse à BBC o ministro do Meio Ambiente da Índia, Prakash Javedekar.
Os países em desenvolvimento também obtiveram garantias de que as nações mais pobres e vulneráveis às mudanças climáticas receberão auxílio financeiro dos mais ricos.
Por outro lado, tiveram de aceitar o exame das propostas nacionais de redução por um painel da ONU, tema que anteriormente tinha encontrado resistência da mesma Índia, que a considerava o escrutínio desrespeitoso à soberania nacional.
Mapa do gás – Também houve um comprometimento para que mais países adotem metas de redução e que os que já têm cronogramas de redução sejam mais “generosos”.
O antagonismo “norte-sul” foi apontado como a principal razão para o fracasso nas negociações durante a conferência realizada em Copenhague há cinco anos.
“Não estamos aqui para reescrever o acordo”, afirmou à BBC na sexta-feira o negociador-chefe do Brasil na COP 20, Antonio Marcondes de Carvalho.
Para diversas organizações ambientalistas, o resultado das negociações foi decepcionante e não trouxe medias por elas defendidas.
“O texto do acordo foi de fraco para fraquíssimo”, criticou Sam Smith, responsável pelas políticas ambientais do WWF.
Em Lima, o Brasil apresentou uma proposta de “diferenciação concêntrica” como forma de apaziguar o debate. Ela previa uma divisão de países em três “níveis de responsabilidade”, em que as nações desenvolvidas precisariam fazer cortes de emissões em todos os setores da economia, enquanto países emergentes como o Brasil, a China e a Índia ficariam num nível intermediário, com mais opções de cortes.
Nações mais vulneráveis economicamente e os passíveis de serem mais imediatamente afetados por mudanças climáticas, como os Estados-ilha, ficariam num nível que não exigiria grandes ações.
A proposta, porém, sofreu alterações durante os debates no Peru.
Uma das grandes esperanças para a Lima era que o recente acordo bilateral de redução de emissões entre EUA e China – ambos anunciaram medidas de redução significativas de emissões até 2030 – pudesse influenciar positivamente as discussões.
Chineses e americanos são os maiores “poluidores” em termos de volume de gases-estufa, de acordo com as medições independentes do grupo de cientistas do Global Carbon Project. Em 2013, emitiram 9,97 bilhões e 5,23 bilhões de toneladas de C02, respectivamente. Ou seja: mais de um terço do total mundial de 36,1 bilhões.
A Índia e a Rússia ficaram em terceiro e quarto lugares, à frente do Japão. O Brasil, que emitiu 482 milhões de toneladas em 2013, ficou em 12º lugar. (Fonte: UOL)