A estiagem em uma época típica de chuvas está colaborando com a despoluição da Lagoa de Araruama, no interior do Rio, afirma um especialista. Segundo o biólogo Eduardo Pimenta, comentarista de meio ambiente da Inter TV, a falta de chuvas faz com o que o sistema de captação de esgoto nas cidades da Região dos Lagos, que funciona em tempo seco, consiga tratar todo o esgoto que é captado.
“No sistema de captação em tempo seco, o esgoto e a água da chuva são captados pela mesma rede. Por isso, quando chove muito o sistema fica sobrecarregado e o esgoto precisa ser liberado in natura, ou seja, sem ser tratado. Com a falta de chuvas isso não acontece e o sistema opera normalmente, tratando 100% do esgoto que é captado”, aponta ele.
Segundo o biólogo, a facilidade em tratar o esgoto acaba colaborando com outros setores, como o turismo e a pesca.
“Com todo o esgoto que está na rede sendo tratado, e a quantidade de ligações clandestinas que jogam o esgoto direto na lagoa cada vez menor, a saúde do ecossistema melhora e isso interfere em vários pontos. A água ficando mais oxigenada favorece a vida marinha e, consequentemente, a pesca. Sem falar que as praias lagunares ficam em boas condições de balneabilidade, o que é essencial para o turismo nessas cidades”, avalia Pimenta.
O biólogo, no entanto, considera que o sistema de tratamento de esgoto em tempo seco não é a melhor opção, justamente por ser suscetível ao regime de chuvas. “Nos últimos anos, nesta época havia chuvas fortes com frequência e isso prejudicava o tratamento do esgoto”, lembrou.
Concessionária trabalha na separação das redes – Procurada pela reportagem do G1, a Prolagos – concessionária de água e esgoto em municípios da Região dos Lagos – disse que a avaliação feita por Eduardo Pimenta está correta. A concessionária apontou ainda medidas que estão sendo tomadas para que seja feita a seperação das redes de captação de esgoto e água da chuva. Confira a nota na íntegra.
“A Prolagos informou que está correta a avaliação feita pelo ambientalista Eduardo Pimenta sobre o benefício da estiagem para o sistema de coleta a tempo seco. Ele consiste na interceptação do esgoto presente nas galerias da rede pluvial. Todo o esgoto coletado é encaminhado para tratamento. A possibilidade de extravasão só ocorre em períodos de grandes volumes de chuva e mesmo assim somente parte deste esgoto que estará diluído com a água da chuva. Esse sistema foi o modelo aprovado no início da concessão para ajudar a recuperar a Lagoa Araruama, que já se encontrava em colapso.
A implantação do processo de coleta a tempo seco foi fundamental para a recuperação da lagoa nos últimos anos. No entanto, a Prolagos busca por meio de parcerias com os Municípios e Estado, através de recursos como ICMS Verde, Fecam e Funasa a implantação de um novo sistema de esgotamento sanitário, que utiliza uma tubulação exclusiva para coletar esgoto, por meio de redes separadoras, e que não são obrigações previstas no contrato de concessão da concessionária.
Nos municípios da área de concessão já existem redes separadoras em alguns locais, e que deverão ser ampliadas assim que os recursos forem aprovados, como no município de São Pedro da Aldeia. Os demais aguardam aprovação nas Câmaras Municipais. A Prolagos informa ainda que coleta e trata 76% do esgoto produzido pelos municípios da área de concessão, acima da meta contratual de 70% para o período.
Histórico – Em 2002, após um acordo proposto pelo Poder Concedente (prefeituras da área de concessão e governo do estado), Agência Reguladora (AGENERSA) e Ministério Público, ficou definido que a concessionária anteciparia os investimentos de esgoto e que adotaria o sistema de captação a tempo seco, atendendo a um anseio da sociedade civil organizada. O objetivo desta mudança foi acelerar a redução do despejo de esgoto in natura na Lagoa de Araruama”. (Fonte: G1)