Pesquisa da Unesp permite que esgoto tratado sirva para irrigar pastagens

Uma pesquisa da Unesp (Universidade Estadual Paulista) em Jaboticabal (342 km de São Paulo) conseguiu utilizar esgoto tratado para irrigar áreas de pastagem e, com isso, economizar água.

Além de colaborar no combate à crise hídrica, a técnica, que não compromete a qualidade da carne, melhora a qualidade do solo, aumenta a produção da forragem utilizada na alimentação do gado e reduz a zero os custos com adubação. A técnica já está disponível e pode ser aplicada imediatamente.

O trabalho, conduzido pelo engenheiro ambiental e doutorando Gilmar Oliveira Santos, demonstrou que, com a utilização do esgoto, é possível economizar em média 30 mil litros de água por ano em cada hectare de terra, o que equivale a 10 mil metros quadrados, área similar à de um campo de futebol.

No total, o Brasil tem cerca de 180 milhões de hectares destinados à pastagem. Se a técnica for utilizada em todos eles, 560 milhões de metros cúbicos podem ser economizados, água suficiente para abastecer uma cidade de 200 mil habitantes por um mês.

A fase de campo começou a ser desenvolvida em fevereiro de 2013 e já foi finalizada, restando apenas a tabulação dos dados.

Santos utilizou uma área de 288 metros quadrados para realizar o experimento. Ele captou o esgoto tratado proveniente de uma estação de tratamento da cidade, que antes era despejado de volta ao rio.

“Começamos a irrigar uma plantação de Brachiaria brizantha, espécie de vegetação usada na alimentação de animais, e percebemos que o desenvolvimento das plantas foi satisfatório. Fizemos análises e percebemos que essa esgoto tratado pode ser utilizado sem nenhum risco à saúde”, informou.

Economia e produção – Santos diz acreditar ainda que a técnica desenvolvida com ele será aplicada de forma rápida porque, além de ambientalmente correta, é financeiramente viável, já que zera os custos de adubação.

Segundo Santos, cada hectare precisa de 1.200 quilos de fertilizante por ano, quantidade de fertilizante que pode chegar a R$ 2.500.

“Não adianta ter uma ideia ambiental e sustentável, se não for lucrativo para o produtor. Esse é o diferencial. Mminha proposta faz com que os produtores deixem de comprar o adubo, já que o esgoto tratado tem todos os nutrientes que as plantas precisam, e também ajuda a preservar a água”, diz.

Além disso, os resultados obtidos por Gilmar mostram que o uso do esgoto tratado aumenta a produção de forragem em cerca de 60%.

“Com água e fertilizantes, são produzidas 30 toneladas de forragem, enquanto com o esgoto esse total chegou a enquanto com o adubo normal foram produzidas 30 toneladas de matéria seca por ano, com o esgoto foram colhidas 47 toneladas.

Santos destaca, porém, que o uso de esgoto tratado em culturas de consumo direto, como verduras e legumes, é proibido por lei no Brasil.

“O esgoto só pode ser usado, depois de tratado, na pecuária. Na agricultura, essa situação é barrada pelas leis”, diz.

Segundo o pesquisador, a vantagem do método é fazer com que a água destinada ao consumo humano seja melhor utilizada.

“Vivemos uma grande escassez hídrica, e o projeto ajuda a deixar de usar o que poderia ser destinado ao consumo humano para usar algo que está sendo jogado fora”, afirma Santos. (Fonte: UOL)