O sistema Cantareira, que abastece 5,6 milhões de pessoas na Grande São Paulo e vive uma crise de abastecimento, teve nos últimos três meses o verão mais chuvoso desde 2011. Foram 748,7 mm na estação que termina às 19h45 desta sexta-feira (20). É mais do que o dobro (123%) do registrado no verão 2013/2014, quando choveram 335 mm.
A chuva minimizou os prejuízos, mas a situação ainda é crítica diante da estação de seca que começa com mais força em maio e vai até setembro. Isso porque o sistema só conseguiu recuperar a segunda cota do volume morto, e agora opera com 16% da capacidade total.
A marca chega perto do que se viu no verão 2010/2011, quando a chuva bateu os 868,4 mm. A tabulação feita pelo G1 considerou os registros nos boletins diários divulgados pela Sabesp entre 21 de dezembro e 20 de março de cada ano.
O verão 2014/2015 só foi o mais chuvoso dos últimos anos por causa da chuva que caiu a partir de fevereiro. Em janeiro, o mês tradicionalmente mais chuvoso do ano, a precipitação foi de apenas 148,2 mm nas represas do Cantareira, o equivalente a 54,6% da média histórica.
Já o mês de fevereiro foi o mais chuvoso no Cantareira desde 1995, com 322,4 mm, 61,9% acima da média histórica. O bom ritmo de chuvas foi mantido em março. Até esta sexta-feira (20) choveu nas represas 169,8 mm, 95,4% do esperado para o mês todo.
Segundo a meteorologista Helena Turon Balbino, do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), o quadro mudou em fevereiro por causa da chegada das massas de ar quentes e úmidas vindas da Amazônia.
“O sistema de alta pressão que estava bloqueando esses ventos na região Sudeste se deslocou para o oceano, um fenômeno típico do verão. Com isso, o canal de umidade se formou novamente, ocasionando chuvas mais significativas”, explicou.
Já as chuvas para os próximos meses do ano no Cantareira não podem ser previstas, diz o climatologista Gilvan Sampaio, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Segundo ele, fatores como a latitude da região das represas e a influência pequena do mar limitam as previsões a no máximo 15 dias.
“A gente tem até uma ou outra pessoa dizendo que este próximo outono vai chover muito, ou que a seca vai continuar. Isso eu costumo dizer que é pura especulação de mercado. Você pode trazer o melhor computador do mundo, os melhores pesquisadores, e não consegue fazer essa previsão. É uma limitação da natureza dessa região”, explica. Ele afirma, no entanto, que a primeira semana de abril, quando as chuvas costumam diminuir, deve ser mais seca do que esta.
Apesar das precipitações mais fortes a partir de fevereiro, o pesquisador afirma que o sistema ainda está em situação delicada do ponto de vista hidrológico. “Este ano seguramente seguimos em uma crise. No ano que vem não se sabe, mas seria um caos se tivermos um terceiro ano seguido com esta situação”, diz.
Rodízio – Em janeiro deste ano, no auge da crise e quando o nível do Cantareira chegou a 5,1%, já considerando o uso de duas cotas do volume morto, a Sabesp chegou a afirmar que poderia ser adotado um rodízio de cinco dias sem água e dois dias com.
Um mês depois, já em meio ao fevereiro mais chuvoso desde 1995, o presidente da Sabesp, Jerson Kelman, fez discurso diferente em audiência na CPI da Sabesp, na Câmara, e afirmou acreditar que o rodízio não será necessário tendo em vista a entrada e a saída de água que ocorriam no sistema.
Em entrevista ao G1 no dia 13, o secretário de Recursos Hídricos, Benedito Braga, afirmou que o governo poderá dizer, entre abril e maio, se o racionamento será necessário. (Fonte: G1)