O Nordeste brasileiro está atravessando uma seca prolongada, mas ela acontece de forma desigual, varia de região para região. Em alguns lugares, não chove há quatro anos.
Na Paraíba, um dos estados mais atingidos, está ficando cada vez mais difícil a vida dos agricultores sertanejos.
Em plena temporada de chuva, os dias em boa parte do sertão começam com sol forte e calor.
A seca faz parte do clima do semiárido nordestino. Normalmente, chove durante quatro meses e passam oito sem chover. O problema é que nos últimos quatro anos, não têm chovido o suficiente, nem na chamada ‘estação das águas’.
Doutor Alexandre Magno é chefe do Departamento de Meteorologia da Agência Executiva de Gestão das Águas da Paraíba (Aesa), e explica que as chuvas dos últimos anos não têm sido suficientes para encher os reservatórios, nem para recuperar as reservas de água no subsolo.
A irregularidade das chuvas fez com que alguns estados ficassem em pior situação. O número de municípios nordestinos em situação de emergência subiu de 659 para 862. De 2011 para cá, cerca de 7 milhões de animais morreram.
Na Paraíba, a área mais afetada pela estiagem é a região do Cariri, que fica no centro do estado. As consequências da seca estão por toda parte. Há lugares onde a vegetação da caatinga nem conseguiu rebrotar, os riachos permanecem secos e falta água e comida para alimentar os rebanhos.
O sítio de Zé Braz Negreiros tem 21 hectares e fica no município de Boqueirão. Nem o poço artesiano, com 50 metros de profundidade, resistiu aos anos consecutivos de estiagem.
Não choveu o suficiente nem para encher as duas cisternas da propriedade e Zé Braz está comprando água para abastecer a família. Já faz três anos que ele não consegue colher nada.
Zé vive da produção de leite que ele transforma em queijo, mas por causa da seca, ele foi obrigado a vender metade das 30 vacas que tinha e vem assistindo a renda da família despencar junto com a produção.
Se a chuva não vier, Zé terá que vender mais vacas porque com a renda atual, ele não tem como comprar ração para alimentar os animais.
A situação era mais fácil quando os criadores tinham palma em abundância para alimentar os rebanhos nos períodos de seca, só que nos últimos anos, uma praga praticamente dizimou os cultivos de palma: a cochonilha.
A cochonilha é um inseto que se multiplica e se espalha rapidamente. Nas folhas da palma, ela atrapalha o desenvolvimento e chega a matar a planta. Segundo dados da Embrapa, de 2010 até agora, mais da metade dos palmais do Nordeste já foram destruídos pela praga, como aconteceu na propriedade de Fábio Gabriel. Ele também é produtor de leite e tinha três hectares de palma. Assista ao vídeo com a reportagem completa e confira a situação.
Quem não tem dinheiro pra comprar ração, acaba perdendo os animais.
Em quatro anos, a seca trouxe muito prejuízo para os agricultores da Paraíba, como conta o agrônomo Vlaminck Saraiva, diretor técnico da Emater no estado: “Na agricultura, nós tivemos todos os anos perdas na safra acima de 50%. Na pecuária, nós tivemos uma perda em torno de 40%. A gente tinha um rebanho de pouco mais de 1 milhão de cabeças, mas em torno de 40% desses animais foram mortos por causa do processo da estiagem prolongada”.
Para pagar as despesas da família, muitos agricultores contam com o Garantia Safra, seguro pago pelo Governo Federal em municípios que perderam mais 50% da produção por causa da seca, e com o Bolsa Família.
Como o Garantia Safra só é pago cinco meses por ano, muitos tiveram que arrumar trabalho fora para conseguir pagar as contas da família.
Os problemas se repetem por todo o cariri paraibano. Muitos agricultores contavam com o programa do Governo Federal que vendia milho subsidiado, a preço mais baixo, através da Conab, só que no começo desse ano, o subsídio acabou.
É bom lembrar novamente que a partir de junho, no segundo semestre, já não costuma mesmo chover no sertão do Nordeste, é quando começa o período normal de estiagem.
A situação é bem preocupante, porque o pessoal pode ter que enfrentar a seca até o final do ano. A hora para encontrar formas de auxílio e de agir é agora. (Fonte: G1)