Colisão de supernova dá novos indícios de como essas estrelas se formam

Os astrônomos avançaram na compreensão de como surgem as supernovas de tipo 1a, após observar o choque de uma delas contra outra estrela em seus primeiros momentos de vida, o que apoia uma das teorias sobre sua formação, mas que não chega a invalidar a outra.

Uma supernova de tipo 1a, um dos fenômenos mais grandiosos do universo, acontece quando uma estrela anã branca (muito densa) explode com uma potência que pode chegar a ofuscar a luz de toda uma galáxia.

Um estudo publicado nesta quarta-feira (20) pela revista científica Nature apontou que esse tipo de supernova se forma segundo o modelo de “degeneração única” e, além disso, sugere que pode haver “duas classes muito diferentes” de supernovas tipo 1a no Universo.

E é que, embora nas últimas décadas tenham sido encontradas centenas de supernovas de todos os tipos, o processo pelo qual uma estrela anã branca sofre essa transformação não está totalmente esclarecido.

Em maio de 2014 uma equipe de astrônomos do Instituto Tecnológico da Califórnia (Caltech), que trabalhavam em um sistema robótico de observação, conhecido como iPTF, descobriram uma supernova de tipo 1a, que batizaram de iPtF4atg, situada a 300 milhões de anos-luz de distância.

Os dados recolhidos nessas observações apoiavam uma das teorias sobre a origem das supernovas anãs brancas e também sugeriam a possibilidade de que, na realidade, há dois tipos de povoações diferentes desta supernova, explicou o artigo.

A comunidade científica tem duas teorias sobre a origem das supernovas tipo 1a, que surgem do mesmo cenário geral: a estrela anã branca que explode forma um sistema binário com outra e ambas orbitam ao redor de um centro comum de massa, mas os dois modelos divergem quando teorizam sobre o tipo de interação entre ambas as estrelas.

O modelo de “dupla degeneração” defende que a companheira da estrela que explode é também uma anã branca, e por isso a explosão da supernova começa quando esses dois objetos semelhantes se fundem.

No entanto, o modelo de “degeneração única” teoriza que a segunda estrela é de tipo solar ou inclusive uma gigante vermelha. Nesse caso a poderosa gravidade da anã branca tira material da segunda estrela, o que aumenta a temperatura e a pressão no centro da anã branca até que se desencadeia uma reação nuclear que acaba em uma espetacular explosão.

No caso da supernova iPtF4atg o impulso ultravioleta registrado pelos telescópios era consistente com uma situação em que o material expulso pela explosão da supernova se lança e rodeia a outra “estrela companheira”, o que gera uma onda de choque que acende o material circundante. Ou seja, os dados aprovam o modelo de “degeneração única”.

Esta descoberta, segundo os cientistas, proporciona evidências da existência de uma estrela companheira em uma supernova tipo 1a e demonstra que, pelo menos, alguns tipos se originam segundo esse modelo.

No entanto, o modelo de “dupla degeneração” não foi invalidado, já que outras supernovas podem se formar segundo essa outra teoria, como algumas observações apontaram nesse sentido em 2011.

“Isso significa que ambas as teorias podem ser válidas”, segundo o professor de astrofísica teórica no Caltech Sterl Phinney, para quem “a notícia é que parece que os dois modelos teóricos são corretos e que existem duas classes muito diferentes de supernovas tipo 1ª”.

As supernovas tipo 1a são conhecidas como “velas padrão”, utilizadas em estudos da expansão do universo, pois permitem aos astrônomos medir as distâncias cósmicas. Sua observação foi fundamental para descobrir que o Universo se expande cada vez mais depressa, ao contrário do que se pensava, o que valeu o Prêmio Nobel de Física de 2011 aos três cientistas americanos autores do estudo. (Fonte: UOL)