Células-tronco conseguem tratar doenças mitocondriais, diz estudo

Cientistas revelaram nesta quarta-feira (15) terem dado um passo fundamental para a terapia com células-tronco no tratamento de doenças mitocondriais raras, passadas de mãe para filho.

Eles “corrigiram” mitocôndrias nocivas em células da pele retiradas de pacientes para criarem células-tronco pluripotentes – células saudáveis versáteis que podem se diferenciar em qualquer célula do tecido no corpo, segundo a equipe.

“Esta descoberta prepara o terreno para a substituição de tecidos doentes em pacientes e abre as portas para o mundo da medicina regenerativa, onde os médicos são capazes de tratar doenças humanas que são atualmente incuráveis”, explicou um comunicado da Oregon Health&Science University, cujos cientistas participaram do estudo.

Mitocôndrias são pequenas fontes de energia encontradas na maioria das células do corpo, transformando o açúcar e o oxigênio em energia.

Mas mutações no DNA hereditários através da linha materna pode levá-los a um mau funcionamento, afetando qualquer coisa: da visão ou à audição até músculos, coração e funções do cérebro.

Cerca de 1.000 a 4.000 crianças nascem com doenças mitocondriais a cada ano apenas nos Estados Unidos, e não existe tratamento eficaz.

“Para as famílias com um ente querido que nasceu com uma doença mitocondrial à espera de uma cura, hoje podemos dizer que a cura está no horizonte”, disse Shoukhrat Mitalipov, co-autor do estudo publicado na revista Nature.

Célula saudável – A equipe coletou células da pele de pessoas com mutações no DNA mitocondrial e removeu os núcleos, que foram emparelhados com citoplasmas retirados de óvulos saudáveis doados. O citoplasma é a substância gelatinosa contendo mitocôndrias no interior da membrana celular, e em torno do núcleo.

“Através desta técnica, os cientistas criaram uma célula-tronco embrionária com mitocôndrias saudáveis”, afirmou o comunicado.

“Os cientistas aspiram usar esta técnica para substituir tecidos doentes no futuro através da remoção de uma célula, corrigindo as mutações, multiplicando as células e reinserindo as células geneticamente corretas no paciente para substituir o tecido doente”.

Especialistas que não estiveram envolvidos no estudo felicitaram a realização do laboratório, mas alertaram que uma aplicação prática ainda estaria longe.

“Passar de um frasco de células em laboratório para neurônios ou células dos vasos sanguíneos no cérebro é muito difícil”, disse David Valle, da The Johns Hopkins School of Medicine, em comentários para o Centro de Mídia dpara a Ciência da Grã-Bretanha (SMC).

Darren Griffin, professor de genética na Universidade de Kent, ponderou que levaria “algum tempo até que [a descoberta] possa ser aplicada clinicamente, dada a necessidade de testes clínicos”.

Em 2010, cientistas britânicos criaram um embrião de laboratório cujo DNA mitocondrial veio de um doador, e o restante de seus pais biológicos.

Em fevereiro deste ano, a Grã-Bretanha tornou-se o primeiro país a permitir a criação dos chamados bebês de três pais usando o método para impedir a transferência de falhas mitocondriais.

Dois anos atrás, Mitalipov admitiu erros em um estudo no qual ele e uma equipe relaram ser o primeiro a transformar células da pele humana em células-tronco embrionárias, mas defendeu os resultados.

Sua técnica de clonagem, que envolve o transplante de DNA de um indivíduo em um óvulo despojado de material genético, foi saudado como um avanço por não destruir embriões humanos na criação de células-tronco. (Fonte: UOL)