Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) em Ribeirão Preto (SP) estão tentando descobrir se a percepção de sabores pode influenciar na obesidade. O estudo, desenvolvido pelo Departamento de Nutrologia, analisa a reação desses pacientes com o sabor amargo para, a partir daí, entender se existe alguma relação entre a capacidade gustativa e o excesso de peso.
O coorientador da pesquisa, José Henrique da Silva, explica que o objetivo é entender de que forma a percepção do paladar influencia na seleção dos alimentos. “O ser humano tem diversos receptores na língua sensíveis ao gosto amargo. É esperado que os obesos tenham a sensibilidade alterada para percepção do gosto amargo quando comparado a pessoas não obesas”, diz.
Silva afirma que a escassez de estudos científicos sobre obesidade que tenham como ponto de partida o sabor amargo levou o grupo a optar pelo tema. Na maioria dos casos, o excesso de peso está sempre relacionado ao doce. “Já sabemos que algumas pessoas são mais sensíveis com gostos amargos, e isso, de uma certa maneira, tem relação com a obesidade, porque pode influenciar na escolha de alimentos mais doces, por exemplo”, afirma.
Ainda em fase inicial, a pesquisa busca voluntários para serem submetidos a um teste em que experimentam uma solução à base de quinino, substância amarga usada principalmente em bebidas gaseificadas. Em seguida, a pessoa deve apontar o gosto que sentiu em uma escala que varia de “quase indetectável” até “o mais forte que possa imaginar.”
“A escala foi baseada em uma plataforma já existente nos Estados Unidos, de um órgão de saúde norte-americano. Criamos um software com o diferencial que permite à pessoa marcar com o dedo em uma tela sensível ao toque, em vez da plataforma original que utiliza o mouse”, afirma Silva.
Assim que essa fase de testes for concluída, os dados sobre as sensações relatadas pelos voluntários serão cruzados com os perfis de cada um. O objetivo é descobrir a relação entre o peso a percepção do sabor amargo para que, no futuro, também seja possível estudar novas alternativas de tratamento contra a obesidade.
“É importante que nós consigamos atingir um grande contingente da população para podermos traçar esse perfil da melhor forma possível. A obesidade está associada às maiores causas de mortalidade. Imaginamos que, no futuro, e com novas pesquisas, seja possível encontrar alvos terapêuticos para o tratamento da doença”, diz o pesquisador. (Fonte: G1)