A mudança climática criou condições sem precedentes para o atual fenômeno El Niño, que terá seu período de maior intensidade entre outubro e janeiro, afirmaram nesta terça-feira especialistas da Organização Meteorológica Mundial (OMM).
Os prognósticos do aquecimento da superfície do mar nas áreas do centro e do leste do Pacífico tropical apontam que o El Niño que está em desenvolvimento provavelmente será um dos quatro mais fortes desde 1950.
Os fenômenos anteriores mais potentes foram os registrados nos períodos entre 1972/1973, 1982/1983 e 1997/1998.
Para suas previsões, os cientistas levaram em conta que em agosto as temperaturas da superfície do mar já estiveram entre 1,3 e 2 graus centígrados acima da média, superando em um grau os níveis frequentes de El Niño.
Os modelos utilizados indicam que as temperaturas se manterão pelo menos dois graus acima do normal e que inclusive poderiam subir um pouco mais.
Os efeitos de El Niño já são sentidos em algumas regiões do mundo de maneira muito variada e serão mais patentes nos próximos quatro a oito meses, segundo a OMM, uma agência científica das Nações Unidas.
De maneira geral, este fenômeno climático pode provocar fortes precipitações – e por conseguinte, inundações – na América Latina, Ásia, Oceania e África, com episódios de secas em outras áreas destas mesmas regiões.
No entanto, os países afetados contam agora com mais experiência, conhecimentos e informação que nunca antes, o que pode ajudar-lhes a tomar medidas de prevenção efetivas, opinou Maxx Dilley, diretor de Prognósticos Climáticos da OMM, ao apresentar a informação mais recente sobre a evolução de El Niño.
O especialista mencionou o caso do Peru, onde estão sendo tomadas ações preventivas, como simulações, e se optou por cancelar sua participação no rali Dacar 2016 pelo risco de inundações ou deslizamentos de terra em áreas que faziam parte do percurso.
O que é completamente diferente desde o último fenômeno de El Niño (entre 1997 e 1998) é que o atual está ocorrendo sob novas condições, influenciada pela mudança climática.
Desde então, “o mundo mudou muito” e a camada de gelo do mar Ártico se reduziu a níveis mínimos, ao mesmo tempo em que se perdeu até um milhão de quilômetros quadrados de superfície nevada no hemisfério norte, explicou o chefe do Programa de Pesquisa do Clima da OMM, David Carlson.
“Emergiram novos padrões, e o que é único agora é que estão coincidindo pela primeira vez com El Niño”, sustentou.
Desde o período 1997/1998 não se tinha observado a presença de El Niño ou de La Niña (o fenômeno contrário, causado pelo esfriamento das águas superficiais de certas áreas do Pacífico), o que também se considera incomum.
Carlson disse que na situação atual – com a influência do degelo no Ártico e o aquecimento do Pacífico tropical – “não sabemos o que acontecerá, se ambos padrões reforçarão um a outro, se anularão, atuarão em sequência ou influirão em distintas regiões do planeta”.
“Realmente não sabemos porque não temos precedentes para esta situação”, comentou o cientista.
As características de El Niño conhecidas até agora apontam que o fenômeno provoca um aumento da intensidade das chuvas no litoral oeste da América do Sul (principalmente Equador e Peru), assim como nos países do chamado Chifre da África.
Por outro lado, causa secas na Austrália, Indonésia, Sudeste Asiático e sul da África. (Fonte: Terra)