Uma feira de pequenos produtores levou no sábado (3) ao Parque da Cidade, diversos produtos da área rural da região do Distrito Federal. A feira, que faz parte da campanha “Compre do Pequeno Negócio, busca divulgar a variedade de produtos, bem como mostrar que muitas vezes as pessoas desconhecem que existem micro e pequenos empresários produzindo com mais qualidade produtos usados no nosso dia a dia.
A ação faz parte das comemorações do Dia Nacional da Micro e Pequena Empresa (5 de outubro), e trouxe para a população maior divulgação da produção rural do DF. O objetivo é mostrar que a valorização do pequeno negócio é benéfica para a vizinhança contribuindo para a qualidade de vida e preservação do meio ambiente. Cerca de 70 famílias participaram da feira que trouxe uma variedade de produtos hortifrutigranjeiros: mel, plantas ornamentais, sucos, pães, cafés, entre outros.
É o caso do chef de cozinha, Bruno Álvaro, de 23 anos, que estava divulgando o mel e outros produtos comercializados pela apícola do seu pai. Segundo Bruno, muitas vezes a população desconhece a produção, porque os pequenos produtores não têm como fazer uma propaganda mais abrangente. “Espaços como esse [da feira] ajuda a divulgar a produção, muitas vezes o produtor não tem dinheiro para gastar com propaganda, o que dificulta tornar o seu produto conhecido e mesmo as pessoas que moram perto ficam sem saber que exite”, disse à Agência Brasil.
Ele lembra ainda que a produção local merece ser mais valorizada porque traz para a população produtos da região. Para a feira, além do mel, geléia real, extrato de própolis, o apiário do pai de Bruno também trouxe duas novidades: pão de mel e uma granola especial produzida sem a adição de açúcar. “Muitas vezes temos produtos bem mais saudáveis que os industrializados, mas a população não tem alcance, por isso esse espaço é importante,” disse.
“Eu mesmo faço receitas com base em produtos do Cerrado. Para a feira trouxe cookies de granola e mel, e outros pratos com produtos do cerrado, como o pequi e o tamarindo”, ressaltou.
De acordo com o Serviço de Apoio a Micro e Pequena Empresa (Sebrae), o Brasil possui mais de 10 milhões de micro e pequenos empreendedores, que faturam no máximo R$ 3,6 milhões por ano. Juntos eles respondem por 52% dos empregos formais no país e ainda ajudam na geração de renda.
É o caso da dona de casa Maria de Fátima Araújo, que estava na feira ajudando na venda de mel. Ela argumenta que a atividade ajuda a manter o dinheiro circulando na vizinhança e sempre que eventos como este ocorrem, ela consegue uma renda extra. “Às vezes as pessoas pensam que não existem esses produtos perto de casa, eu venho aqui ajudar os amigos na divulgação e ainda consigo ganhar um dinheirinho.”
Pequenos negócios valorizados movimentam o comércio local e promovem o desenvolvimento social, representando mais de 95% do total de empresas brasileiras. Por isso, de acordo com o Sebrae a maior parte das atividades dos micro e pequenos empreendedores se concentra no Comércio (44%) e na prestação de serviços (35%). Somadas as outras atividades, eles ajudam a dar maior dinamicidade a economia e respondem por 27% do Produto Interno Bruto (PIB).
Para o produtor Valdaci de Freitas que participa pela primeira vez de uma iniciativa como essa, a experiência de divulgação tem sido positiva. Ao lado da filha, ele produz mandioca, em Brazlândia. O produto é embalado à vácuo, antes de ser comercializado. “Estamos aprimorando para oferecer melhor qualidade. Nosso produto já não leva agrotóxicos, mas a gente precisava melhorar a embalagem. Para atingir um público maior. Começamos a fazer isso há pouco tempo, essa aqui está sendo a nossa primeira experiência e o resultado tem sido muito satisfatório.”
A nova embalagem foi aprovada pelo funcionário público Arnaldo Souto Ribeiro que comprou 2,5 kg do produto. Segundo ele, a família adora comer mandioca cozida.” É muito bom poder comprar diretamente de quem produziu, a gente fica com mais confiança no que está levando. Quando chegar em casa, vou colocar para cozinhar e comer com a família”.
O produtor rural Carlos Caetano, defende os produtos agrícolas de pequenos produtores por agredirem menos o meio ambiente. Dono de uma propriedade de 165 hectares, em Santo Antônio do Descoberto, no entorno do DF, onde produz café e frango orgânico, ele defende a pequena produção como uma alternativa para diminuir o impacto ambiental de grandes cultivos.
Em sua propriedade, ele cultiva café em regime agroflorestal, associando a agricultura e criação de animais (no caso frango e algumas cabeças de gado) com árvores, de maneira a combinar a produção e conservação dos recursos naturais. O Café, da variedade Catuaí é cultivado no sombreado e também irrigado. Desde o plantio, até a colheita, todo o processo é feito com o mínimo de impacto ao meio ambiente e também voltado para garantir ao máximo o aroma e o sabor dos grãos que só são torrados e moídos quando há demanda de compra.
“Estou convencido que o alimento [industrializado] que estamos ingerindo está muito ruim. Somo campeões no uso de agrotóxicos e, como mostram muitas pesquisas, isso não faz bem para a saúde. Comecei a produzir de maneira orgânica porque penso que temos a obrigação de produzir um alimento mais saudável, aliando a isso a preservação da natureza”, disse à Agência Brasil.
Único produtor de frango orgânico certificado na Região Centro-Oeste, Caetano reclama que os produtos orgânicos ainda são ignorados pelo mercado, que investe na massificação. Segundo ele, atualmente o frango orgânico produzido em sua fazenda custa mais ou menos o dobro do frango industrializado. Ele argumenta que os pequenos produtores, em especial os que trabalham com produção orgânica não recebem nenhum tipo de isenção de imposto ou estímulo para a produção, o que contribui para que a diferença de preço seja maior.
No caso do frango, Caetano disse à Agência Brasil que está trabalhando para reduzir essa diferença para 30% em até quatro anos. “Diferentemente dos animais de granjas industrializadas que são criados em ambiente artificial e estimulados a se alimentarem 24h por dias, os nossos frangos são criados próximos do natural, com ração orgânica e tratados com fitoterapia para prevenir enfermidades, só administramos as vacinas obrigatórias. Todo o processo segue o que determina a legislação”, disse.
Ainda de acordo com o produtor, a iniciativa, mesmo que sem muito apoio, está voltada para o desenvolvimento de novas tecnologias e de parcerias. Uma delas é com o abatedouro das aves, também certificado, e no desenvolvimento da embalagem para o café, que possui uma válvula unidirecional que expele o gás carbônico produzido naturalmente pelo café, mas evita a entrada de oxigênio e, consequentemente da oxidação do produto, o que levaria à perda das características, como aroma e sabor.
Ele defende ainda que o governo deveria ampliar os recursos voltados para a pesquisa de tecnologias envolvendo a produção orgânica. “Se não há investimento, a gente não tem o desenvolvimento de tecnologias adequadas para a produção, o que torna o risco do negócio maior. Mas, na medida em que você tenha mais produtividade, mais produtores envolvidos, um aumento na pesquisa, você diminui o custo”, ponderou. (Fonte: Agência Brasil)