A última reunião prévia à Cúpula do Clima de Paris, que pretende fechar um acordo vinculativo e global contra a mudança climática, começou nesta segunda-feira em Bonn (no oeste da Alemanha) obscurecida pelas diferenças entre as economias avançadas e as em vias de desenvolvimento.
O Grupo dos 77, associação de países em desenvolvimento que reúne quase todas as nações da América Latina, África e Ásia, e China deixaram patente na sessão plenária inaugural sua decepção com a minuta de acordo apresentada pela Convenção sobre Mudança Climática da ONU (UNFCCC).
Segundo a delegação da África do Sul, que falou representado todo o bloco, o texto está “extremamente desequilibrado” a favor das economias avançadas e não abrange as demandas dos países em desenvolvimento.
Outros pontos levados ao debate nesta reunião – que vai até sexta-feira e conta com a participação de dois mil delegados – concernem ao grau de ambição, se tentar limitar o aquecimento global a 1,5 ou 2 graus, e à obrigatoriedade do texto: O uso de “deve” ou “deveria”.
A presidência da UNFCCC ofereceu às delegações a opção de propor “inserções cirúrgicas” no texto de maneira urgente para incluir suas reivindicações irrenunciáveis antes de começarem as negociações.
O ministro de Meio Ambiente do Peru, Manuel Pulgar Vidal, responsável pela Cúpula do Clima anterior, em 2014 em Lima, se dirigiu em mensagem de vídeo aos participantes para pedir que façam pontes e busquem eliminar as diferenças.
Pulgar Vidal defendeu uma negociação “de maneira significativa e construtiva”, com otimismo, para alcançar um “texto pactuado e um acordo justo, ambicioso e pragmático porque, apesar da decepção que alguns expressaram com relação ao documento, todos têm vontade” de apoiar as negociações e cooperar.
O ministro se mostrou a favor de “aproveitar o que já foi feito”, em referência à minuta apresentada pela UNFCCC e “avançar rumo ao sucesso” em Paris.
“Não há tempo a perder”, afirmou Vidal aos delegados em Bonn.
Em entrevista coletiva posterior, a chefe da delegação europeia, Elina Bardram, viu “sinais positivos” no texto, suficiente para “começarem a trabalhar, embora ainda esteja ambíguo em alguns pontos e tenha omissões”.
Em outros encontro com a imprensa, o responsável pela Diplomacia do Clima da ONG ambiental E3G, Liz Gallagher, criticou o texto apresentado a debate pela presidência por ser “irreconhecível” em alguns pontos, mas se mostrou relativamente otimista com relação ao resultado final em Paris.
Para Liz, a “pressão” sobre os países é tão grande e a aliança sobre mudança climática é tão sólida entre EUA e China que ela acredita será possível chegar a um acordo na Cúpula do Clima de Paris.
Estes cinco dias de negociações são os últimos para preparar o terreno para a Cúpula do Clima de Paris e, portanto, fundamentais para que os líderes possam carimbar um acordo contra o aquecimento global, que substitua a partir de 2020 o Protocolo de Kioto.
Os analistas destacaram que quanto mais concreto e sem questões pendentes for o texto desta reunião de Bonn, mais fácil será chegar a um acordo político final em Paris.
Desta forma pretendem, por um lado, manter o aquecimento global abaixo dos dois graus centígrados – em comparação com os valores pré-industriais, já que a grande maioria dos cientistas alertaram que uma elevação maior das temperaturas teria efeitos devastadores sobre o planeta.
Por outro lado, desejam evitar a todo custo um fiasco político como o da Cúpula do Clima de Copenhague, em 2009, quando as diferenças impediram chegar a um acordo mínimo que permitisse impulsionar este processo. (Fonte: Terra)