Couve, cenoura, banana, brócolis, pimentão, mato, laranja, vagem, salsinha, berinjela, mato, couve-flor, manga, cebolinha, cebola, abobrinha, nirá, mexerica, mato, batata, hortelã, melão, jiló, menta, alho-poró, mato, ervilha torta e galinhas para “postura” (só para colocar ovos). Tudo isso junto e misturado. Assim é a cultura de consórcio praticada pelos agricultores do Assentamento Colônia I, que comercializam orgânicos em frente ao Ministério do Meio Ambiente e em outros locais de Brasília há 13 anos. O mercado de orgânicos cresce 20% ao ano no Distrito Federal, segundo dados atuais da Companhia de Planejamento do DF (Codeplan).
“Aqui fazemos o manejo da terra, não precisa capinar tudo, deixar tudo limpinho. Fazemos um controle natural. O mato ajuda a equilibrar, a despistar os insetos”, conta o agricultor José Vitorino Barros, 54, um dos oito produtores do Colônia I. “A ideia nossa é produzir qualidade de vida. O segredo é: quanto mais você olha, mais bonito fica”, revela.
Cultivo orgânico – O amor à terra vai aliado a muita prática, conhecimento e manejo. Hoje, o solo ácido do Cerrado, no entorno de Brazlândia (DF), a 65 km da capital federal, se tornou uma terra trabalhada onde tudo dá. “Quando eu era do convencional, 20 anos atrás, o que eu vendia deixava na agropecuária para comprar sementes e aditivos químicos”, explica Vitorino sobre a dependência de agrotóxicos que a agricultura convencional gera nos agricultores.
Orientado por profissionais da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Distrito Federal (Emater) e professores da Universidade de Brasília (UnB), o grupo de agricultores vem aprimorando, ao longo dos anos, o cultivo orgânico.
“Antes uma folha de couve furadinha do que recheada de veneno” é a máxima de José Vitorino. A água que irriga a plantação, diariamente, vem de um poço artesiano de 130 metros, cavado por meio de uma “venda solidária”. O agricultor explica: “Meu filho, Watila, teve a ideia de uma venda antecipada para nossos clientes. Cada um colaborou com o que pôde, 100, 200, até 500 reais. Em 90 dias, devolvemos o dinheiro em produtos e, quando o poço ficou pronto, fizemos um almoço para eles”.
Qualidade – Anualmente, os agricultores do Assentamento Colônia I produzem 40 variedades de verduras e frutas, sendo 25 semanais, além de bolos, biscoitos e queijos feitos pelas mulheres da Associação dos Produtores do Projeto Colônia 1 (APPC). O que cada um produz é vendido por todos. Levantam uma média de R$ 1,5 mil por feira. “Dá para ter qualidade de vida, não para enricar”, comenta Watila José dos Santos.
A APPC surgiu em 1996, com 24 famílias beneficiadas pelo programa de reforma agrária do Incra. Hoje, oito dessas famílias trabalham com a produção de orgânicos. A APPC é considerada uma instituição importante para a concretização das propostas de desenvolvimento e proteção ambiental da Área de Proteção Ambiental (APA) do Lago Descoberto.
Perigo – Desde 2008, o Brasil é campeão mundial no uso de agrotóxicos. Ainda hoje pulverizados por via aérea nas plantações no país (prática proibida na Europa), os pesticidas afetam negativamente tanto os seres humanos, gerando desde alergias a câncer, como o meio ambiente. A alarmante extinção das abelhas, responsáveis pela polinização de diversas espécies de plantas, é umas das graves consequências. O veneno também penetra no lençol freático e contamina as águas. E assim por diante.
A produção orgânica tem crescido no país com o aumento da demanda. Consumidores conscientes dos benefícios à saúde e ao meio ambiente se multiplicam, assim como os produtores. Atento a essa demanda social, o governo criou a Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (PNAPO) e, em 2013, o Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (Planapo).
Agroecologia – “O Planapo é, também, um reconhecimento da viabilidade econômica, social e ambiental da agroecologia e da produção orgânica. Já iniciamos a elaboração da sua segunda fase”, destacou a gerente de Políticas Agroambientais da Secretaria de Extrativismo e Desenvolvimento Rural Sustentável do MMA, Roseli Bueno de Andrade.
Em fase de conclusão, o Programa Nacional de Redução do Uso de Agrotóxico (Pronara), parte do Planapo, foi aprovado em 2014 pela Comissão Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (CNAPO). Trata-se de uma comissão paritária, composta por membros do governo e da sociedade civil.
Com foco na produção saudável de comida, na primeira semana de novembro, aconteceu, em Brasília, a V Conferência Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional. Destacou-se, no evento, a importância vital dos agricultores familiares, que produzem 70% dos alimentos consumidos no país.
O que é produto orgânico – O alimento orgânico vegetal é aquele obtido sem a utilização de agrotóxicos, pesticidas, adubos químicos ou sementes transgênicas. O de origem animal deve ser produzido sem o uso de hormônios de crescimento, anabolizantes ou drogas, como antibióticos, que favoreçam o seu crescimento de forma não natural. Os orgânicos são considerados mais saborosos e saudáveis, além de terem alto teor de antioxidantes, vitaminas, minerais, fósforo, fibras e outros nutrientes que beneficiam o equilíbrio do organismo.
Onde encontrar – Sempre às quintas-feiras, das 6h às 13h, em frente ao Ministério do Meio Ambiente, no bloco B da Esplanada dos Ministérios; no MMA da 505 Norte; na entrada do ICC Norte, na UnB (também às terças-feiras); em frente ao Ministério do Desenvolvimento Agrário, bloco C da Esplanada dos Ministérios; e em frente à Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL). (Fonte: MMA)