Pesquisadores da USP de Ribeirão Preto (SP) desenvolveram um exame de sangue capaz de relacionar o zika vírus com casos de microcefalia. O procedimento, ainda em fase de testes na Faculdade de Medicina, consiste da detecção de anticorpos do vírus em materiais coletados na mãe e no bebê.
O Ministério da Saúde e o Centro de Prevenção e Controle de Doença dos Estados Unidos (CDC, na sigla em inglês) recentemente deram declarações que reforçam a correlação entre o vírus e a malformação do crânio em recém-nascidos, mas o fato ainda não é comprovado cientificamente.
Segundo dados divulgados pelo Ministério da Saúde no dia 11, foram registrados 3.530 casos suspeitos de microcefalia possivelmente ligados ao zika vírus em recém-nascidos em todo o país.
“A gente adicionou aqui mais uma peça no conhecimento que talvez possa definir, dentro de algum tempo, essa correlação causal entre o zika vírus e a microcefalia”, afirma o médico infectologista Benedito Antonio Lopes da Fonseca, responsável pela pesquisa.
O teste – Fonseca explica que infectou células do laboratório com o zika, isolado ainda vivo de um bebê com microcefalia. Em vez de morrerem, as partículas que tiveram contato com sangue da mãe e de sua filha sobreviveram.
O fato indica a presença de anticorpos da doença no material coletado dos pacientes, o que dá evidências de que o feto foi infectado durante a gestação.
“O sangue foi suficientemente forte e preveniu a morte das células, mostrando que realmente estão a partir desse momento protegidas contra novas infecções pelos zika vírus”, afirma.
Segundo ele, atualmente existem outros exames capazes de detectar dengue e zika vírus, mas o novo procedimento é mais específico.
“Os outros testes que a gente tem, que detectam a resposta imune do nosso organismo ao vírus, podem reagir também com dengue, mas este não. Realmente mostrou que a mãe teve uma infecção pelo vírus zika quando ela estava nos segundo mês da gravidez.”
Apesar da descoberta, a aplicação do exame de sangue ainda depende de testes. Em parceria com a Secretaria de Estado da Saúde, o procedimento será avaliado a partir de fevereiro em três mil mulheres grávidas, da gestação ao nascimento, na USP de Ribeirão Preto.
“Se este dado for comprovado todas as vezes, aí realmente fica mais fácil de determinarmos que a infecção de zika vírus está relacionada com a microcefalia”, diz Fonseca.
Detecção por chip – Além do exame de sangue, pesquisadores da USP de Ribeirão Preto trabalham no desenvolvimento de um chip que pode ser capaz de detectar 416 tipos de vírus – entre eles o da dengue, da chikungunya e do zika vírus transmitidos pelo mosquito Aedes aegypti – através de amostras clínicas de pacientes.
O estudo pioneiro no Brasil é um passo importante para ajudar médicos em diagnósticos rápidos e precisos. Em vez da conhecida virose, o médico poderá detalhar ao paciente em um único exame o quê de fato causou a doença. (Fonte: G1)