O prefeito de Piracicaba, Gabriel Ferrato (PSDB), afirma que a tecnologia dos mosquitos transgênicos no combate ao Aedes aegypti é cara, mas usada a longo prazo pode se tornar economicamente viável.
“Se comparamos as ações tradicionais com esta tecnologia, o custo de usar os mosquitos transgênicos é mais alto, mas se eu puder com essa nova tecnologia eliminar as ações tradicionais ao longo do tempo, provavelmente ela vai ter viabilidade econômica” disse o Ferrato, em entrevista ao G1. “Tem que ser feito ainda um estudo de custo-benefício sobre a viabilidade econômica, mas, como economista que sou, tenho quase certeza que daria certo.”
Segundo o prefeito, se o impacto econômico de uma eventual erradicação da dengue for computado, a conta sai ainda mais positiva.
A tecnologia vem sendo testada no Cecap, um bairro na periferia do município, desde abril de 2015, num programa de parceria entre a prefeitura e a Oxitec, empresa que criou os insetos.
A técnica levou a uma redução de 82% na população de mosquitos (medida a partir de larvas depositadas em armadilhas), quando comparada a outras áreas onde o mosquito transgênico não estava presente.
Por enquanto a Prefeitura gastou relativamente pouco, cerca de R$ 150 mil, para tratar por um ano uma área de 5.200 habitantes. O valor, na verdade, foi uma “pechincha” oferecida pela Oxitec, que ainda não tem licença para comercializar o produto e realizou o projeto a título de pesquisa científica, sem poder lucrar. O dinheiro da prefeitura foi investido diretamente no projeto.
A área onde a tecnologia foi implementada, porém, não deixou de ser tratada com ações tradicionais: pesticidas e visitas de agentes sanitários para achar focos de água parada e educar a população. Segundo o prefeito, não há caixa na Prefeitura para espalhar mosquitos transgênicos em todo o município no curto prazo.
“Se alguém neste país puder nos oferecer os recursos necessários, nem que fosse de financiamento, para expandir por toda a cidade, sem dúvida eu faria”, disse Ferrato. “Mas agora, não hão há como fazer isso, até por conta da crise econômica que afetou a receita dos municípios.”
Oferta e demanda – A Oxitec não revela quanto dinheiro gastou no projeto em Piracicaba, mas em 2014 chegou a divulgar uma estimativa de custo. Para conduzir um programa de combate ao mosquito numa cidade de 50 mil habitantes, seria preciso gastar entre R$ 2 milhões e R$ 5 milhões para o primeiro ano. Nos anos seguintes o custo anual cairia para R$ 1 milhão. Esses valores, porém, não levam em conta a inflação e variação cambial dos últimos dois anos e hoje provavelmente são maiores.
O valor a ser gasto em um novo teste a ser realizado no município, porém, deve ser em torno dessa escala, já que deve proteger uma área contendo população de 35 mil a 55 mil pessoas. Na nova fase, os mosquitos continuarão a ser liberados no Cecap e também em um bairro na região central da cidade, a ser definido.
Para isso a Oxitec já planeja criar uma nova fábrica de mosquitos, com capacidade para atender no futuro uma população de 300 mil pessoas, trinta vezes maior do que aquela que a empresa já possui em Campinas. Piracicaba tem hoje 390 mil habitantes.
Se a intenção for expandir o projeto para toda a cidade no futuro, porém, também será preciso aguardar a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) aprovar a licença de comercialização da Oxitec.
A empresa já tem aval de segurança, mas para fazer um projeto de grande escala, o projeto teria de sair da esfera da pesquisa para o dos negócios. E o próprio Ferrato diz que não teria como comprar todos os mosquitos que a Oxitec será capaz de produzir em Piracicaba. “Mas já há outros municípios interessados.”
“Evidentemente vamos continuar expandindo nossa capacidade de produção de acordo com a demanda que temos”, diz Glen Slade, presidente da Oxitec no Brasil. “Estamos prontos para investir mais rapidamente caso tenhamos uma parceria com o governo para implantar projetos.”
O governo federal não manifestou interesse ainda.
Medo – Enquanto a barreira financeira para expandir a tecnologia é ainda uma incógnita, uma barreira cultural parece aparentemente ter sido vencida pela Oxitec: a opinião pública sobre os transgênicos.
Enquanto a implementação da transgenia na agricultura causou grande controvérsia no país, o uso desta biotecnologia para um projeto de saúde pública não despertou a ira de ambientalistas.
Os materiais de divulgação da Oxitec, de qualquer forma, que apresentam seu mosquito transgênico como “Aedes do Bem”, não mencionam muito o conceito de transgenia.
A preocupação de técnicos de campo como Guilherme Trivellato, coordenador do projeto da Oxitec em Piracicaba, é mais a de convencer a população de que os mosquitos liberados não vão picar ninguém.
Trivellato também passou boa parte do ano rodando pelos bairros do teste e cuidando das armadilhas onde mosquitos e larvas eram capturados. A relação de cortesia construída com os moradores ajudou a manter intacto o material de pesquisa usado para monitorar a população de mosquitos.
Para o trabalho, o agrônomo-entomólogo conseguiu a ajuda de estudantes de pós-graduação da Esalq (Escola Superior de Agricultura Luís de Queiroz), onde ele mesmo se formou. Os mosquitos só foram liberados depois de a Oxitec ter certeza que a população não iria se revoltar contra o projeto.
“Se você vê alguém soltando mosquito e você não entende o que está fazendo, assusta um pouco”, diz Trivellato. “Mas antes de começar a liberar a gente fez um trabalho muito forte no centro de Piracicaba e no Cecap, indo a escolas e falando com formadores de opinião da cidade para explicar como a tecnologia funciona.”
Segundo ele, conhecendo bem o bairro foi possível ver de perto áreas onde o mosquito transgênico faria a diferença. “Se você tem uma casa para alugar que está fechada, uma piscina abandonada ou um depósito de pneu ao qual ninguém consegue ter acesso, o mosquito chega lá”, diz. “Mas o mosquito transgênico macho consegue ir ativamente atrás desses criadouros para encontrar as fêmeas e interromper a linhagem de reprodução delas.” (Fonte: G1)